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Golpe x Impeachment

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 por Carolina Rodeghiero e Letícia Schinestsck

O dia 17 de abril de 2016 entrou para a história do País pela votação do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional. A votação foi transmitida, além de como geralmente pela TV Câmara, por diversos canais de TV abertos. Iniciada às 17h da tarde e finalizada pós meia noite, a votação permaneceu em pauta no Twitter sob a tag #ImpeachmentDay, trending topic no Brasil. Seguimos a série de posts do MIDIARS sobre a votação do impeachment no Congresso Nacional, dando continuidade às análises do discurso e argumentação dos votos no dia 17.

Percebendo as prévias marcações representativas do SIM ou do NÃO que seria dito na votação por cada deputado, tendo como exemplo cores das manifestações (vermelho para aqueles contrários ao impeachment e cores da bandeira nacional para aqueles a favor), o muro que foi construído na Esplanada dos Ministérios em Brasília para separar os manifestantes, e discursos na internet, definimos usar como termo de pesquisa as palavras “golpe” e “impeachment”, e assim verificar se Golpe estaria majoritariamente ligada ao discurso do “não”, se Impeachment ao do “sim”, e sob quais termos.

Os dados foram coletados em três momentos: no dia 17 de abril às 17 horas, início da votação; no dia 17 de abril às 23 horas, nos momentos finais de votação e já com o resultado prévio de aprovação do impeachment; e às 18 horas do dia 18 de abril, durante o discurso da Presidenta Dilma sobre a decisão do Congresso Nacional. Ao todo, foram coletados 40.307 tweets sobre GOLPE e 38.468 tweets sobre IMPEACHMENT, sendo o maior volume a coleção do dia 17 à tarde, com 19.875 publicações para a primeira menção e o dia 18 com 19.364 para a segunda.

GOLPE

Quanto a GOLPE, o primeiro grafo apresenta a disposição discursiva geral do dia 17, com os principais atores das discussões na rede. Observamos que o perfil @midianinja, contrário ao impeachment, domina o principal grupo (em verde) e tem alcance inclusive em outros grupos discursivos. Outro usuário de grande representatividade é o @vailagay, perfil engajado em causas LGBT e aqui representado em rosa. @detremura também aparece em um grupo que apresenta publicações a favor do impedimento. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 1. Dados do dia 17/4 a partir da palavra “golpe” no Twitter.

Quanto ao conteúdo discursivo, usamos o Textometrica para separar os termos de co-ocorrência com a palavra “golpe”, ou seja, o que foi mencionado no Twitter sobre o assunto. Percebemos aí a predominância de palavras como “contra”, “democracia”, “impeachment”, “Brasil”, e a tag #respeiteasurnas. Notamos que as hashtags #nãovaitergolpe, #respeiteasurnas e #brasilcontraogolpe fazem parte do mesmo grupo de discussão, ou seja, estão mais frequentemente ligadas nos discursos sobre o golpe. 

Golpe_17geral_co-ocorrencias

Figura 2. Co-ocorrência de palavras relacionadas a “golpe”

Outra constatação é um grupo isolado a favor do impeachment, representado no grafo em amarelo, que interliga os termos “corrupto”, “político” e “poder”, três palavras que aparecem no tweet de @detremura: “Vc que fica repetindo que é golpe tirar político corrupto do poder #ImpeachmentDay” A publicação teve 370 retweets (até a publicação deste post) e 354 likes. Já o @midiaNINJA apresentou durante todo o dia 17 tweets com fotos de diversas cidades brasileiras onde estavam ocorrendo manifestações contra o impeachment. Em uma das postagens ele escreve “Milhares contra o golpe #respeiteasurnas”, com 574 retweets e 554 likes.

Outro fator que chama atenção é a forte menção ao presidente da Câmara Eduardo Cunha, que aceitou e liderou a votação do processo de impeachment da presidenta, e sua ligação com Temer, vice-presidente da República, PMDB, partido de ambos, e PSB.

Desta vez com a coleta de 2.283 tweets e 2.360 atores, observamos uma mudança no discurso quando comparamos o dia 17 ao dia 18. Durante o pronunciamento da Presidenta Dilma Rousseff sobre a votação de seu impedimento, as menções mais relacionadas a golpe são marcadas pela repercussão internacional da notícia, pelo apoio de líderes latino-americanos ao julgar o resultado como golpe, e, com muita força na rede, a declaração do deputado Jair Bolsonaro ao votar sim pelo impeachment, homenageando o Golpe de 64 dizendo “… perderam em 64 e vão perder em 2016”. A polêmica da justificativa do voto se deu especialmente pela homenagem que o deputado fez ao torturador de Dilma durante a Ditadura, o Coronel Brilhante Ustra. Assim como Bolsonaro, o presidente da Abril aparece nas co-ocorrências a golpe, devido a uma notícia de que o presidente da Editora Abril enviou uma carta aos funcionários comemorando a decisão do Congresso Nacional e dizendo que a empresa irá lucrar com o impeachment(clique no grafo para ver maior)

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Figura 3. Grafo normalizado de menções do dia 17/4

Outra característica do dia 18 foi a tag #ALutaComeçou, contrária a decisão da Câmara e determinada a chamar novas manifestações dos grupos pró-governo às ruas nas próximas semanas. Além disso, a menção a “votos” se deu tanto em referência aos votos dos deputados quanto a discussão sobre o valor do voto do eleitor no Brasil.

A imprensa latino americana descreve a votação como golpe de Estado, e, sob o apoio do presidente da Venezuela Nicolás Maduro em apoio à Dilma, a hashtag #ForaDilmaFueraMaduro é reforçada na rede, a favor do impeachment, assim como a hashtag #NoAlGolpeaDilma, contrária a decisão tomada no dia anterior.

 

IMPEACHMENT

Sob a mesma lógica da coleta de “golpe”, aqui trabalhamos a palavra “impeachment” e retiramos dados do Twitter também nos dias 17 e 18 de abril de 2016. Como ferramentas de coleta e análise, usamos o Gephi e o Textometrica para sustentar e construir a análise. Com o NodeXL coletamos 15.082 atores em 18.104 tweets. A ideia foi observar as diferentes correntes discursivas que circulam na rede em referência ao mesmo termo, sob contextos e interpretações distintas.
Inicialmente apresentamos de forma geral os atores em destaque nas formações discursivas realizadas no Twitter durante a votação do impeachment. Percebemos cada cor do grafo a seguir como representativa de um grupo na rede, destacando @depbolsonaro, @blogteleguiado, @OledoBrasil e @blogdopim como os principais atores durante a coleta. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 4. Dados do dia 17/4 no Twitter a partir da palavra “impeachment

Quanto ao discurso, apresentamos aqui um grafo que já expõe de forma nítida uma divisão de correntes discursivas nas co-ocorrências de palavras em relação a impeachment. As conexões representadas em rosa parecem pertencer a tweets oriundos de notícias, enquanto as coloridas em verde representam mais fortemente manifestações contrárias ao Governo.

Para a construção deste grafo, filtramos os dados no Textometrica para que só constassem as palavras com 200 ou mais co-ocorrências.

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Figura 5. Grafo com dados de co-ocorrências da palavra impeachment em 17/4

Para observarmos melhor os dados, distribuímos os dados em uma versão normalizada do grafo. Aqui podemos ver bem demarcadas as conexões e os grupos discursivos que são formados na rede. O grupo representado em azul tem diversos nós com grandes menções na rede, e estão altamente conectados entre si. @depbolsonaro, perfil oficial do Deputado Jair Bolsonaro no Twitter, tem forte engajamento com as hashtags #ForaDilma, #ForaPT e #LulanaCadeia. O deputado, como foi dito na análise de “golpe”, votou a favor do impeachment. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 6. Grafo normalizado com co-ôcorrências da palavra “impeachment” em 17/4

Outra característica do grafo é que apresenta as demais conexões muito próximas de “impeachment”, mas fazendo referência a diversos tópicos, não necessariamente em campanha contra o governo. Até mesmo “jogo do Flamengo” aparece diversas vezes, sob a reclamação de alguns usuários porque a Rede Globo estava transmitindo a votação ao invés do futebol tradicional de domingo.

Seguindo a análise, notamos que a palavra impeachment vem muito mais carregada da referência à presidenta como Dilma Rousseff, enquanto “golpe” se refere à chefe de Estado como Dilma simplesmente. É interessante observar e pensar para análises futuras se há aí um discurso propositalmente fundamentado em relações de distância e aproximação, dependendo da posição política, ou se essa diferença no tratamento se deve a outros fatores, como por exemplo a linguagem jornalística. Reforçamos esta observação a partir dos dados de “golpe”, em que os tweets majoritariamente chamam Dilma de “presidenta”, enquanto os dados de “impeachment” a chamam de “presidente”.

18 de abril

Passada a votação, com resultado de seguimento ao processo, a coleta do dia 18 se voltou a discursos referentes a repercussão do que ocorreu durante e após a decisão dos deputados.

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Figura 7. Grafo normalizado para co-ocorrências da palavra “impeachment” no dia 18/4

Um fato em particular roubou a atenção da internet no dia seguinte a votação do impeachment. O marido de uma deputada que gritou “SIM, SIM, SIM” durante o voto, dedicando o momento a sua família e usando seu marido como exemplo de como o Brasil pode combater a corrupção, foi preso pela Polícia Federal na manhã de segunda-feira, por corrupção em sua gestão da prefeitura de Águas Claras, Minas Gerais. As referências em verde e laranja no grafo apresentam as conexões de palavras ligadas a tweets neste sentido, como “preso”, “Minhas Gerais” e “Polícia Federal”. Há também a forte ocorrência de “elogiado”, “corrupção”, “deputada”, “marido” e “exemplo”, fazendo referência ao mesmo caso.

No dia 18 também houve muitas menções quanto do dólar, que não baixou como o mercado previa, e ao Senado, que seguirá com a votação do processo de impeachment.

De forma geral, o termo GOLPE é muito mais relacionado a tweets a favor do governo, enquanto IMPEACHMENT reforça tags contrárias a permanência de Dilma Rousseff no poder. Ainda assim “impeachment” é bastante utilizada por ambos os lados, além da mídia. Esta breve análise é um pontapé inicial para aprofundarmos a discussão dos dados quanto a marcações discursivas de ambos os termos isoladamente e também de forma conectada.


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