O terceiro candidato a ter seu discurso no Facebook analisado é Jurandir Silva, do PSOL. Já foram publicadas as análises de Paula Mascarenhas e Anselmo Rodrigues. Amanhã será a vez de Miriam Marroni.
Coletou-se todas as publicações da página de Jurandir Silva no Facebook entre 1º e 22 de setembro. Para isto, foi utilizado o software NodeXL. Os dados foram processados no site textometrica, que busca coocorrências entre conceitos para a análise de contingência. Foram selecionados 29 conceitos que resultaram em 204 coocorrências. Em seguida, utilizou-se o software Gephi para a formação de um grafo que representa as relações entre os conceitos.
Duas métricas foram medidas para a formação do grafo: o grau, número de conexões de um nó, representado pelo tamanho do nó; e a modularidade, que forma grupos de acordo com as conexões entre os conceitos, representados pelas cores dos nós. O algoritmo utilizado para gerar o grafo foi o Force Atlas, que aproxima os grupos e centraliza os nós de maior grau.
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Grafo 1. Termos mais utilizados por Jurandir no Facebook (clique na imagem para abrir em uma resolução maior).
A partir dos cálculos de modularidade foram formados quatro grupos entre os conceitos analisados. Diferentemente dos candidatos anteriores, no discurso de Jurandir não há um grupo apenas com hashtags.
Antes de uma análise específica dos grupos, é interessante citar que, também diferente do que ocorreu com os outros candidatos, o nome de Jurandir (ou de Roberta, sua vice) não é um nó central no grafo. Isto caracteriza um discurso mais direto, que não apresenta tantas referências aos assessores de comunicação, responsáveis frequentemente pelo gerenciamento de redes sociais em campanhas políticas. Não necessariamente foi Jurandir o responsável pela maioria das publicações, mas o sentido gerado por uma interlocução mais direta é esse.
A característica de uma campanha mais próxima do eleitor é evidenciada no grupo verde (parte superior do grafo). Jurandir convida o eleitor a “participar” de uma “campanha colaborativa”, enviando “fotos” e explicando porque vai “votar” no PSOL. O material enviado pelos eleitores é, então, publicado nas “redes sociais” da campanha. Este aspecto é relevante por dois motivos: evidencia a participação popular e o engajamento de militância; e tenta solucionar o pouco tempo de propaganda gratuita de Jurandir na televisão e no rádio.
Mesmo no grupo roxo, mais central e diversificado do grafo, onde estão alguns conceitos mais gerais (como “Pelotas”, “candidatura” e “programa”), a questão popular é marcada. Os conceitos “juntos” e “construir” aparecem frequentemente na frase: “Vamos juntos construir a Pelotas que merecemos” – incluindo também o conceito “merece”. O conceito “compartilha” também convida à participação dos apoiadores da campanha.
Outro elemento presente no grupo roxo pode ser observado pelo conceito “mudança”, relacionado também com o conceito “merece”. Jurandir afirma em diversas situações que “Pelotas merece mudanças”, trazendo um sentido de oposição ao governo atual e propondo uma nova forma de gestão.
No grupo laranja os conceitos “democratização”, “cultural” e “atividades” definem uma das bandeiras defendidas pela chapa de Jurandir, a ampliação de atividades culturais de maneira mais democrática, sendo oferecida gratuitamente em “bairros periféricos”.
Ainda se pode observar no grupo azul a oposição ao governo de Michel Temer. A relação entre os conceitos “fora” e “Temer” deixam isso claro. “Popular” também está associada aos conceitos porque Jurandir convoca seus seguidores para uma assembleia popular contra o presidente.
Em resumo, percebe-se que o discurso produzido por Jurandir no Facebook tem como característica uma interlocução mais direta, eliminando a maior parte de elementos que possam identificar uma assessoria de comunicação e incentivando a interação de seus apoiadores e militantes. Jurandir ainda se apropria de um discurso mais popular, propondo uma construção conjunta com a sociedade e defendendo acesso à cultura também em bairros periféricos.