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MIDIARS inaugura Laboratório

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Nosso laboratório de pesquisa agora está funcionando. Após várias negociações de espaço e equipamentos, já estamos com tudo pronto. No laboratório hoje trabalham cinco bolsistas de iniciação científica, além de mais oito mestrandos e doutorandos. Em breve, começaremos com a proposta de alguns cursos e com mais material aqui na página.

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Matéria no site da UCPel sobre o novo lab


Os protestos de 16/08

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Embora esses protestos tenham sido menores que aqueles de 15/03, ainda há uma participação massiva e um espalhamento muito grande nas cidades. Alguns elementos que acreditamos que são interessantes.

O mapa a seguir mostra as conversações em torno de “protesto” coletado entre as 15h e as 23h de ontem. São 140.647 tweets e 95.525 contas. O cluster central, colorido, é aquele onde estão as principais referências aos acontecimentos no Brasil.

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Primeiramente, é interessante que no mapa de quem falou dos protestos ontem, no Twitter, vemos um claro embate. Há dois núcleos muito ativos, um contra o governo (em rosa) e outro a favor (em amarelo). Ambos estão engajados em tuitar os eventos, mas cada um selecionando e repassando aquilo que serve a sua própria narrativa. O mapa a seguir mostra apenas aqueles que tuitaram mais de dez vezes usando a palavra “protesto” ontem. Há uma grande diferença entre os nós neste grupo e aqueles no restante da rede. Aqui há o maior número concentrado de contas que falaram dos protestos tanto contra quanto a favor.

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Esse embate é muito diferente do que vimos em março, quando quase não apareceu o discurso contrário, tamanha força do discurso anti-governo.

No segundo mapa, vemos os principais influenciadores de cada grupo (ou seja, qual narrativa ganhou mais destaque em cada lado). É importante ver, também, a importância da narrativa dos veículos jornalísticos nestes eventos. A grande maioria dos retweets (com ou sem comentários) e menções refere-se a eles.

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Com relação aos discursos presentes, analisamos os mais de 100 mil tweets através de análise de contingência. Retiramos dos dados a palavra “protesto” e assemelhados, que atuam como pontes entre os diferentes discursos, para tentar compreender melhor o que foi dito.

No primeiro mapa, a seguir, vemos os principais conceitos que aparecem nos tweets (frequencia maior que 200). As cores indicam a modularidade (tendência dos conceitos a aparecerem juntos) e as conexões, a frequencia da associação entre duas palavras.

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No mapa, vemos claramente associados os conceitos de “impeachment” e “Dilma”, mostrando que os protestos, em sua narrativa online, fizeram essa associação. A outra demanda, que também aparece, mas de forma mais discreta é “corrupção”. Dilma e o PT também são fortemente associados, juntamente com “panelaço”. Esse núcleo (laranja), está mais associado ao discurso contra o governo. Também aparece, em rosa, o discurso de apoio ao governo, com “vergonha”, “#carnacoxinha” e “#vempromico”, além de outros conceitos.

Neste proximo mapa, vemos as associações normalizadas, o que nos permite investigar o que foi mais associado no discurso no Twitter. Há várias conexões importantes, mas é interessante que tanto o discurso anti-governo (clusters azul claro, azul escuro, ao centro, roxo) quanto o de apoio ao governo (azul médio, ao centro, verde musgo, acima) aparecem claramente. Além disso, associações como “melhor” e “internet”; “cut, “pt” e “povo”, e “rua” e “milhares” também traduzem elementos interessantes do que está sendo narrado de forma comum.

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#PrimeiroAssédio: Discursos no Twitter

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Um dos nossos temas de estudo aqui no MIDIARS é a questão da violência de gênero. Por isso, observar a tag #primeiroassedio foi bastante importante e já está dentro de algumas produções que estamos fazendo. Apresento aqui alguns dados do que estamos analisando. Coletamos 76975 tweets com a tag, entre os dias 22 e 23/10. O mapa da rede mostra uma grande densidade e clusterização, o que é típico de redes ativistas, ou seja, que engajam as pessoas que ficam repassando os tweets relativos ao assunto inúmeras vezes.Essa hipótese é reforçada pelo tamanho da rede (26077 nós) e pelo número de arestas (62376).

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(Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

Na figura acima, vemos os nós por indegree (atores que receberam maior atenção da rede – número de RTs e menções) aparecem em tamanho maior e por grupos (atores que, pelas conexões, tendem a estar mais perto uns dos outros). Vemos núcleos bastante ativos em torno da tag. É interessante que aqueles que se apropriaram da hashtag para trollar ficaram à margem do grande núcleo (em laranja, abaixo), não recebendo atenção do centro da rede.

Discursos sobre a hashtag
O nosso principal interesse é compreender como se articulam as disputas discursivas e as formações discursivas que podemos observar no conjunto de dados. Analisamos, portanto, os conceitos mais utilizados pelos atores em suas falas e suas conexões. Para isso, utilizamos métodos mistos, com análise de contingência e análise de redes para compreender o que estava sendo dito. No primeiro mapa discursivo, a seguir, vemos os conceitos mais fortes na totalidade do que foi dito. Mantive a hashtag (que obviamente apareceu em todos os tweets) para fins de comparação.

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(Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

Vemos, ao centro, a dualidade de gênero, com as citaçòes “homens” e “mulheres”(indicando que esta dualidade foi mantida na discussão). No núcleo vermelho, fortemente associado às mulheres, temos “cultura”, “estupro”, “assédio”, “roupas”, “sociedade”, “culpa”, “nojo” e “violência”. Em verde, os conceitos mais centrais são (além de “#primeiroassedio”) “homens”, “piada”, “criança”, “medo” (que está mais próximo de “mulheres”), “feminismo”, “criança” (a tag surgiu depois da denúncia de assédio sexual na internet a uma criança participante de um programa de TV), além de “vergonha”, “sofrimento”, “tristeza”.

Selecionei apenas os nós mais conectados e citados, para que pudéssemos ver a essência do que foi dito. Esses conceitos foram aqueles mais usados pelos atores para comentar a hashtag em seus tweets.

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(Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

Mas o mapa que permite a identificação das FDs em seu contexto é sempre aquele onde os dados estão normalizados. A seguir, vemos os conceitos mais frequentemente associados, por cores, com aqueles com maior frequencia em tamanho maior.

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(Clique na imagem para ver em tamanho maior.)

Creio que essas associações são bastante auto-explicativas. Chamo a atenção para “cultura” e “estupro” (em vermelho, a direita) e para o contradiscurso (“vitimismo”, “brincadeira” e “mimimi” em laranja, a esquerda). Embora vemos aí que esse discurso (da piada e da ridicularização da hashtag) tenha sido bem menos frequente, vemos claramente que ele existiu. Com a questão central da redação do ENEM ontem focando a questão da persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira, creio que vemos um momento propício para a discussão da violência de gênero também.

Votação do Impeachment na Câmara dos Deputados

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Ontem, como todos sabem, tivemos a votação sobre a aprovação do processo de impeachment da presidenta Dilma, que seguirá, daqui por diante, para o Senado. Estamos monitorando essas questões no Twitter. Ontem, dia da votação histórica, coletamos dados a cada 30 min e acabamos com 367.056 tweets e 220.918 atores envolvidos na discussão durante, principalmente, a tarde e a noite. Entretanto, ao contrário do resto da semana, quando a discussão apareceu quase sempre polarizada entre dois grupos, desta vez tivemos muito mais núcleos. Na figura 1, a seguir, vemos que há um núcleo muito mais forte, composto de contas que são citadas entre si, durante o dia de ontem.

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Figura 1: Dados do dia 17/04 a partir da palavra “impeachment” no Twitter.

Vemos de modo mais difuso vários grupos (representados pelas cores) de nós que retuitam as mesmas coisas (o que temos demarcado como “comunidades de posicionamento político”, ou seja, opositores e pró impeachment tendem a retuitar/mencionar mais contas que apoiam suas idéias e não contas contrárias). Há mais pluralidade de idéias e menos polaridade. Apesar disso, continuamos com dois fortes grupos pró (em rosa claro) e contra o impeachment (em verde)demarcados ao centro da imagem. Em um close no grafo, é possível ver esses núcleos de contas que são citadas em conjunto, notadamente associadas a seus posicionamentos.(Só mantive aqui contas com indegree maior do que 500, ou seja, que foram citadas ou retuitadas mais de 500 vezes ontem.)

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Figura 2: Núcleos contra e a favor do impeachment.

A figura 3, a seguir, apenas para que se veja a diferença, são os dados do dia 12/04. Além de, evidentemente, muito menos contas envolvidas, há uma polarização muito mais demarcada do que ontem. Vemos, de modo claro, dois núcleos, um rosa, que representa a oposição ao impeachment (muito mais claro em termos de articulação discursiva) e um mais esverdeado que representa os pró impeachment (menos colorido, ou seja, com mais pluralidade de fontes e menos articulaçào discursiva), no núcleo representado na figura 4.

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Figura 3: Dados do dia 12/04 com a palavra “impeachment” no Twitter.

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Figura 4: Núcleo que mostra as articulações pró e contra o impeachment.

Ontem houve, portanto, uma participação muito maior no debate no Twitter. Mas a redução na polarização mostra que já não houve mais tenta certeza de posicionamento, e que há atravessamento de vários discursos no posicionamento das pessoas. Houve mais pluralidade discursiva (mais em torno do humor) e as posições que antes eram extremamente polarizadas parecem ter reduzido sua força. Talvez um efeito da própria votação ao vivo, onde muitos tweets críticos da posição/apresentação dos deputados tenham aparecido.

O Discurso nos votos dos Deputados

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Além de crawlear a rede em torno do debate no Twitter, pensamos também em buscar compreender as formações discursivas presentes (ou ausentes) no discurso dos deputados quando foram votar no processo. Com os dados do que foi dito gentilmente cedidos pelo Felipe Pacheco (que também fez uma análise bem legal aqui), fizemos uma análise de conteúdo e co-ocorrências dos temas no votos dos deputados favoráveis e contrários ao impeachment.

Votos pelo SIM
Foram 367 votos pelo “sim”, como sabemos. A seguir, na Figura 1, mostramos o grafo com os conceitos mais citados e suas ocorrências conjuntas. Ao centro do grafo vemos os mais citados entre si (estados, povo, familia, Deus, Dilma, sim, e impeachment) que estão fortemente associados. Quanto mais para a periferia do grafo, menos citados no grupo estão os conceitos.

Dentre os conceitos mais citados nas justificativas pelos deputados, apareceram os conceitos de estado de origem (“pelo meu estado X”), pelas suas famílias (citações a esposas, maridos, filhos etc.), pelo “povo”, por “Deus”, além dos partidos de origem (diversos deputados nominaram os partidos), a constitução federal, os protestos e a corrupção. Temas pungentes como o desemprego e a crise na saúde foram citados, mas por deputados que não referenciaram com tanta força os conceitos centrais (ou seja, foram citados por deputados que em geral não usaram o grupo do meio). Além disso, também apareceram valores abstratos como “esperança”, “futuro melhor”, “dignidade”, “liberdade”, “vida”. É interessante observar também os grupos verde e laranja, que representam fundamentalmente duas posições: Aqueles discursos mais abstratos, que não citaram os fatos principais do processo, mas que estão mais baseados em valores pessoais; e aqueles discursos que citaram de forma mais forte as questões centrais ao processo de impeachment (“responsabilidade” fiscal, crime, processo, governo e etc.).

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Figura 1: Discurso dos deputados que votaram pelo “sim”.

Quando observamos esses discursos a partir da normalização dos conceitos, temos os conceitos mais claramente apresentados (Figura 2). Ao centro do grafo, no maior grupo (rosa), vemos os conceitos “Brasil”, “estados”, “família”e “Dilma”, os mais presentes associados ao “sim”. A ideia do crime de responsabilidade aparece em outro grupo, afastada do centro, indicando, novamente, que as justificativas foram mais pessoais e menos processuais. Os valores mais abstrados também aparecem em outro grupo mais separado.

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Figura 2: Discurso dos deputados que votaram pelo “sim”, dados normalizados.

Votos pelo NÃO
A seguir, vemos o que disseram aqueles deputados que votaram pelo “não”(137 deputados). Na Figura 3 temos os principais conceitos citados por esses deputados. Interessante observar que há várias coincidências com relação aos votos pelo sim. O núcleo central dessas falas é composto pelos conceitos “povo”, “Brasil”, “democracia”, “Dilma”, “constituição”, “golpe”. Vemos, aqui, portanto, que o discurso opositor foi mais concentrado na crítica ao processo de impeachment em si (“golpe”, “defesa”, “constuição”, “respeito”, bem como às eleições- “urnas”) do que às motivações individuais dos deputados. Essas também existem, mas aparecem principalmente no núcleo rosa, na periferia do grafo (onde são citados os trabalhadores, o campo, os jovens, a contrariedade à ditadura, a família e a reforma agrária, dentre outros temas). A questão dos direitos das mulheres também aparece fortemente ligada à discussão (indicando que há uma implicação desse discurso com a questão de gênero, tanto da presidenta quanto das mulheres em geral). Outras justificativas são a defesa do “crime” de “responsabilidade” fiscal, e o respeito às “urnas”.

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Figura 3: Discurso dos deputados que votaram pelo “não”.

Analisando os dados normalizados novamente (Figura 4), ficam um pouco mais claros os conjuntos de conceitos associados. A questão da “democracia”, por exemplo, foi usada como argumento central para este grupo, e está fortemente associada a “Brasil” e “Dilma”. Além disso, outros conceitos fortes são os de “luta”, “mulheres”, “crime” e “responsabilidade”. Os grupos mostram argumentações já mais delineadas em torno da questão processual do que no grupo anterior, onde parece que houve uma questão mais emocional na votação.

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Figura 4: Discurso dos deputados que votaram pelo “não”, normalizado.

Os argumentos dos deputados

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Ontem aconteceu a votação relativa ao processo de impeachment de Dilma na Câmara dos Deputados. Com a aprovação, o próximo passo é a votação no Senado. Dentre outras coisas, o que chamou a atenção foram as justificativas dos deputados. Por isso, decidiu-se realizar uma análise a partir de um viés argumentativo (oriundo da retórica). Para uma visualização dos discursos analisados, utilizam-se dois grafos gerados a partir da análise de conteúdo e de co-ocorrência. Os grafos aqui apresentados foram apropriados do post anterior sobre o tema (da Raquel Recuero, utilizando os dados do Felipe Pacheco).

Os votos sim: “pelo meu estado, pelo Brasil, por Deus, pelos meus filhos, pela minha família…”
Entre os deputados presentes, 367 votaram “sim”. Na Figura 1 é possível ver como foram realizados os discursos a favor do impeachment. Quanto maior o conceito, mais frequente ele é. No centro do grafo estão os que foram mais citados conjuntamente e mais afastados do centro estão os menos citados.

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Figura 1: Conceitos dos deputados que votaram “sim”

O que se percebe é que no núcleo dos discursos estão os conceitos relacionados com seus estados de origem, com o Brasil, com o povo, e com as suas famílias. Há ainda com alta frequência a referência a Deus e aos partidos dos deputados. Também se pode citar o grupo laranja (os conceitos estão separados em grupos de cores conforme sua modularidade – frequência com que aparecem juntos), onde estão elementos mais associados ao processo de impeachment, como “responsabilidade” (fiscal) e “crime”.

Se pode concluir, então, que as justificativas dos votos a favor do impeachment possuíam geralmente um cunho mais pessoal do que processual. Com isso, é possível questionar o tipo de argumentos foram utilizados pelos deputados.

Podemos citar primeiramente a ligação simbólica, descrita por Chaïm Perelman (1993). A ligação simbólica é um tipo de argumento que relaciona o símbolo com o que ele evoca. Assim, os deputados se construíam como símbolos: do seu estado, da sua família, de seus eleitores, do Brasil e, até mesmo, de Deus. Isto porque muitos dos discursos eram iniciados com estas referências: “Pelo meu estado, pela minha família, pelos meus filhos…”. Isto pode ser visto nos dois exemplos a seguir (optou-se por citar deputados gaúchos em função da proximidade geográfica):

Afonso Hamm (PP-RS.) :  Em nome do povo gaúcho, povo do meu Estado, em nome do povo brasileiro, para votarmos a favor da mudança, a favor da esperança, sim ao impeachment!

Osmar Terra (PMDB-RS.) :  Pela minha família, minha esposa, meus filhos, pelas famílias brasileiras, pelas crianças do Brasil, pela minha Santa Rosa, meu povo do Rio Grande, pelo Brasil, é sim, Sr. Presidente!

Os exemplos acima ainda podem ser associados a outro tipo de argumento, que é construído como falácia (argumentos que violam alguma regra lógica – seriam os argumentos que buscam mais enganar do que persuadir). É o argumento/falácia ad populum (WESTON, 2009). Esta falácia busca apelar para a emoção das massas – está, portanto associada ao que Aristóteles chama de pathos: despertar emoções no seu auditório. Quando os deputados justificam seus votos pelo “povo”, estão claramente se apropriando deste argumento, ou seja, os deputados não estão apenas representando simbolicamente o povo, estão também realizando a vontade dele.

Os votos não: “Contra o golpe, a favor da democracia”
O voto “não” foi realizado por 137 deputados. Como pode ser visto na Figura 2, alguns dos conceitos centrais são os mesmos dos votos “sim”, como “povo” e “Brasil”. Outros, porém, são diferentes e marcam a gênese dos discursos realizados pelos deputados que votaram “não”: “democracia”, “golpe, “respeito” e “constituição”.

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Figura 2: Conceitos dos deputados que votaram “não”

O que se percebe, então, é que o núcleo argumentativo se altera na maior parte das situações. Os deputados que votaram “não” questionam a legalidade do processo de impeachment. As justificativas, portanto, estão bem mais relacionados com elementos processuais, que apelam aos conceitos “democracia”, “golpe” e “constituição” para reforçar a afirmação de ilegitimidade do processo. Algumas referências a “Cunha” também são realizadas, questionando a credibilidade do deputado para conduzir a votação e presidir a Câmara. Também se pode perceber a referência ao “povo” e ao resultado das “urnas” como argumento para a ilegalidade do processo. Isto pode ser visto nos três exemplos a seguir:

Henrique Fontana (PT-RS.): Contra a conspiração e a corrupção representadas por Eduardo Cunha e Temer; contra o golpe; em defesa da democracia e do respeito ao voto do cidadão brasileiro, eu voto com toda convicção não a esse golpe, não a esse impeachment!

Marco Maia (PT-RS.) : Pelos trabalhadores e trabalhadoras do nosso Brasil, pela democracia e pelo respeito ao voto soberano do povo brasileiro,que elegeu a Presidenta Dilma com 54 milhões votos, o meu voto é não a esse golpe

Pepe Vargas (PT-RS.) : Contra o acordão de Eduardo Cunha, Michel Temer e Aécio Neves, que querem abafar o combate à corrupção, contra os golpistas, que não prezam a democracia e os direitos dos trabalhadores, pela Constituição, que jurei cumprir, pela democracia e pela legalidade, meu voto é não ao golpe.

Há um argumento básico nas justificativas pelo “não”: o silogismo, argumento dedutivo clássico, descrito já por Aristóteles. Ele pode ser observado pelo modus tollens (WESTON, 2009), que funciona pelo modelo: Se a, então b; b é falso; logo, a é falso. Na situação analisada pode ser visto assim: Se há crime, o impeachment é legítimo; não há crime; logo, o impeachment é ilegítimo (golpe). Esta é a base para a presença dos conceitos “democracia”, “constituição”, “golpe”, dentre outros.

Também é possível citar a ligação de coexistência (PERELMAN, 1993), quando relaciona um indivíduo e seus atos. Ela está muito próxima do argumento em forma de falácia ad hominem (WESTON, 2009). A ligação de coexistência (como argumento) ou a falácia ad hominem aparecem quando a credibilidade de Cunha é questionada, assim como quando outros nomes são citados (Temer e Aécio, por exemplo). Se Cunha não tem autoridade para presidir o processo, ele seria em sua base ilegal é o modelo de argumentação. A solução entre ligação de coexistência ou falácia ad hominem se dá a partir da maneira como Cunha é considerado: se, de fato, as acusações contra ele possuem fundamento, aqui há a ligação de coexistência (como argumento real); por outro lado, se Cunha é inocente do que é acusado, então haveria apenas a falácia ad hominem.

Por fim, mais uma vez é possível citar, como nas justificativas do “sim”, a ligação simbólica e a falácia ad populum. Novamente os deputados se colocam como representantes simbólicos do povo, agora fazendo referências mais diretas aos “trabalhadores”, às “mulheres”, “reforma agrária” e, novamente, aos seus estados.

O ad populum também pode ser observados nas diversas evocações aos resultados das urnas. A justificativa é que se o povo elegeu Dilma, então a vontade do povo deve ser respeitada e ela deve ser mantida no seu cargo.

Pelo sim, pelo não, o que se entende?
O que se pode concluir é que, de modo geral, os deputados evocaram sua posição como representantes do povo e dos seus eleitores/estados. Os que votaram “sim” ainda buscaram referências a Deus e suas famílias com grande frequência.

Também se vê que os argumentos do “sim” estavam mais vinculados a elementos pessoais, enquanto os do “não” traziam referências mais diretas ao processo do impeachment, questionando o próprio processo e também Cunha, responsável pela sua condução.

No geral, os dois lados utilizaram o argumento/falácia ad populum, justificando que estavam seguindo a vontade do povo, para retirar Dilma de seu cargo (no caso do “sim”) ou para manter a voz das “urnas” e não permitir o “golpe” contra a “democracia” (no caso do “não”).

Referências
ARISTÓTELES. Retórica. 2 ed. Trad. Manuel Alexandre Júnior, Paulo Farmhouse Alberto e Abel do Nascimento Pena. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005.

PERELMAN, Chaïm. O Império Retórico: Retórica e Argumentação. Trad. Fernando Trindade e Rui Alexandre Grácio. Porto: Asa, 1993.

WESTON, Anthony. A construção do argumento. Trad. Alexandre Feitosa Rosas. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

Golpe x Impeachment

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 por Carolina Rodeghiero e Letícia Schinestsck

O dia 17 de abril de 2016 entrou para a história do País pela votação do impeachment da Presidenta Dilma Rousseff no Congresso Nacional. A votação foi transmitida, além de como geralmente pela TV Câmara, por diversos canais de TV abertos. Iniciada às 17h da tarde e finalizada pós meia noite, a votação permaneceu em pauta no Twitter sob a tag #ImpeachmentDay, trending topic no Brasil. Seguimos a série de posts do MIDIARS sobre a votação do impeachment no Congresso Nacional, dando continuidade às análises do discurso e argumentação dos votos no dia 17.

Percebendo as prévias marcações representativas do SIM ou do NÃO que seria dito na votação por cada deputado, tendo como exemplo cores das manifestações (vermelho para aqueles contrários ao impeachment e cores da bandeira nacional para aqueles a favor), o muro que foi construído na Esplanada dos Ministérios em Brasília para separar os manifestantes, e discursos na internet, definimos usar como termo de pesquisa as palavras “golpe” e “impeachment”, e assim verificar se Golpe estaria majoritariamente ligada ao discurso do “não”, se Impeachment ao do “sim”, e sob quais termos.

Os dados foram coletados em três momentos: no dia 17 de abril às 17 horas, início da votação; no dia 17 de abril às 23 horas, nos momentos finais de votação e já com o resultado prévio de aprovação do impeachment; e às 18 horas do dia 18 de abril, durante o discurso da Presidenta Dilma sobre a decisão do Congresso Nacional. Ao todo, foram coletados 40.307 tweets sobre GOLPE e 38.468 tweets sobre IMPEACHMENT, sendo o maior volume a coleção do dia 17 à tarde, com 19.875 publicações para a primeira menção e o dia 18 com 19.364 para a segunda.

GOLPE

Quanto a GOLPE, o primeiro grafo apresenta a disposição discursiva geral do dia 17, com os principais atores das discussões na rede. Observamos que o perfil @midianinja, contrário ao impeachment, domina o principal grupo (em verde) e tem alcance inclusive em outros grupos discursivos. Outro usuário de grande representatividade é o @vailagay, perfil engajado em causas LGBT e aqui representado em rosa. @detremura também aparece em um grupo que apresenta publicações a favor do impedimento. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 1. Dados do dia 17/4 a partir da palavra “golpe” no Twitter.

Quanto ao conteúdo discursivo, usamos o Textometrica para separar os termos de co-ocorrência com a palavra “golpe”, ou seja, o que foi mencionado no Twitter sobre o assunto. Percebemos aí a predominância de palavras como “contra”, “democracia”, “impeachment”, “Brasil”, e a tag #respeiteasurnas. Notamos que as hashtags #nãovaitergolpe, #respeiteasurnas e #brasilcontraogolpe fazem parte do mesmo grupo de discussão, ou seja, estão mais frequentemente ligadas nos discursos sobre o golpe. 

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Figura 2. Co-ocorrência de palavras relacionadas a “golpe”

Outra constatação é um grupo isolado a favor do impeachment, representado no grafo em amarelo, que interliga os termos “corrupto”, “político” e “poder”, três palavras que aparecem no tweet de @detremura: “Vc que fica repetindo que é golpe tirar político corrupto do poder #ImpeachmentDay” A publicação teve 370 retweets (até a publicação deste post) e 354 likes. Já o @midiaNINJA apresentou durante todo o dia 17 tweets com fotos de diversas cidades brasileiras onde estavam ocorrendo manifestações contra o impeachment. Em uma das postagens ele escreve “Milhares contra o golpe #respeiteasurnas”, com 574 retweets e 554 likes.

Outro fator que chama atenção é a forte menção ao presidente da Câmara Eduardo Cunha, que aceitou e liderou a votação do processo de impeachment da presidenta, e sua ligação com Temer, vice-presidente da República, PMDB, partido de ambos, e PSB.

Desta vez com a coleta de 2.283 tweets e 2.360 atores, observamos uma mudança no discurso quando comparamos o dia 17 ao dia 18. Durante o pronunciamento da Presidenta Dilma Rousseff sobre a votação de seu impedimento, as menções mais relacionadas a golpe são marcadas pela repercussão internacional da notícia, pelo apoio de líderes latino-americanos ao julgar o resultado como golpe, e, com muita força na rede, a declaração do deputado Jair Bolsonaro ao votar sim pelo impeachment, homenageando o Golpe de 64 dizendo “… perderam em 64 e vão perder em 2016”. A polêmica da justificativa do voto se deu especialmente pela homenagem que o deputado fez ao torturador de Dilma durante a Ditadura, o Coronel Brilhante Ustra. Assim como Bolsonaro, o presidente da Abril aparece nas co-ocorrências a golpe, devido a uma notícia de que o presidente da Editora Abril enviou uma carta aos funcionários comemorando a decisão do Congresso Nacional e dizendo que a empresa irá lucrar com o impeachment(clique no grafo para ver maior)

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Figura 3. Grafo normalizado de menções do dia 17/4

Outra característica do dia 18 foi a tag #ALutaComeçou, contrária a decisão da Câmara e determinada a chamar novas manifestações dos grupos pró-governo às ruas nas próximas semanas. Além disso, a menção a “votos” se deu tanto em referência aos votos dos deputados quanto a discussão sobre o valor do voto do eleitor no Brasil.

A imprensa latino americana descreve a votação como golpe de Estado, e, sob o apoio do presidente da Venezuela Nicolás Maduro em apoio à Dilma, a hashtag #ForaDilmaFueraMaduro é reforçada na rede, a favor do impeachment, assim como a hashtag #NoAlGolpeaDilma, contrária a decisão tomada no dia anterior.

 

IMPEACHMENT

Sob a mesma lógica da coleta de “golpe”, aqui trabalhamos a palavra “impeachment” e retiramos dados do Twitter também nos dias 17 e 18 de abril de 2016. Como ferramentas de coleta e análise, usamos o Gephi e o Textometrica para sustentar e construir a análise. Com o NodeXL coletamos 15.082 atores em 18.104 tweets. A ideia foi observar as diferentes correntes discursivas que circulam na rede em referência ao mesmo termo, sob contextos e interpretações distintas.
Inicialmente apresentamos de forma geral os atores em destaque nas formações discursivas realizadas no Twitter durante a votação do impeachment. Percebemos cada cor do grafo a seguir como representativa de um grupo na rede, destacando @depbolsonaro, @blogteleguiado, @OledoBrasil e @blogdopim como os principais atores durante a coleta. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 4. Dados do dia 17/4 no Twitter a partir da palavra “impeachment

Quanto ao discurso, apresentamos aqui um grafo que já expõe de forma nítida uma divisão de correntes discursivas nas co-ocorrências de palavras em relação a impeachment. As conexões representadas em rosa parecem pertencer a tweets oriundos de notícias, enquanto as coloridas em verde representam mais fortemente manifestações contrárias ao Governo.

Para a construção deste grafo, filtramos os dados no Textometrica para que só constassem as palavras com 200 ou mais co-ocorrências.

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Figura 5. Grafo com dados de co-ocorrências da palavra impeachment em 17/4

Para observarmos melhor os dados, distribuímos os dados em uma versão normalizada do grafo. Aqui podemos ver bem demarcadas as conexões e os grupos discursivos que são formados na rede. O grupo representado em azul tem diversos nós com grandes menções na rede, e estão altamente conectados entre si. @depbolsonaro, perfil oficial do Deputado Jair Bolsonaro no Twitter, tem forte engajamento com as hashtags #ForaDilma, #ForaPT e #LulanaCadeia. O deputado, como foi dito na análise de “golpe”, votou a favor do impeachment. (clique no grafo para ver maior)

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Figura 6. Grafo normalizado com co-ôcorrências da palavra “impeachment” em 17/4

Outra característica do grafo é que apresenta as demais conexões muito próximas de “impeachment”, mas fazendo referência a diversos tópicos, não necessariamente em campanha contra o governo. Até mesmo “jogo do Flamengo” aparece diversas vezes, sob a reclamação de alguns usuários porque a Rede Globo estava transmitindo a votação ao invés do futebol tradicional de domingo.

Seguindo a análise, notamos que a palavra impeachment vem muito mais carregada da referência à presidenta como Dilma Rousseff, enquanto “golpe” se refere à chefe de Estado como Dilma simplesmente. É interessante observar e pensar para análises futuras se há aí um discurso propositalmente fundamentado em relações de distância e aproximação, dependendo da posição política, ou se essa diferença no tratamento se deve a outros fatores, como por exemplo a linguagem jornalística. Reforçamos esta observação a partir dos dados de “golpe”, em que os tweets majoritariamente chamam Dilma de “presidenta”, enquanto os dados de “impeachment” a chamam de “presidente”.

18 de abril

Passada a votação, com resultado de seguimento ao processo, a coleta do dia 18 se voltou a discursos referentes a repercussão do que ocorreu durante e após a decisão dos deputados.

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Figura 7. Grafo normalizado para co-ocorrências da palavra “impeachment” no dia 18/4

Um fato em particular roubou a atenção da internet no dia seguinte a votação do impeachment. O marido de uma deputada que gritou “SIM, SIM, SIM” durante o voto, dedicando o momento a sua família e usando seu marido como exemplo de como o Brasil pode combater a corrupção, foi preso pela Polícia Federal na manhã de segunda-feira, por corrupção em sua gestão da prefeitura de Águas Claras, Minas Gerais. As referências em verde e laranja no grafo apresentam as conexões de palavras ligadas a tweets neste sentido, como “preso”, “Minhas Gerais” e “Polícia Federal”. Há também a forte ocorrência de “elogiado”, “corrupção”, “deputada”, “marido” e “exemplo”, fazendo referência ao mesmo caso.

No dia 18 também houve muitas menções quanto do dólar, que não baixou como o mercado previa, e ao Senado, que seguirá com a votação do processo de impeachment.

De forma geral, o termo GOLPE é muito mais relacionado a tweets a favor do governo, enquanto IMPEACHMENT reforça tags contrárias a permanência de Dilma Rousseff no poder. Ainda assim “impeachment” é bastante utilizada por ambos os lados, além da mídia. Esta breve análise é um pontapé inicial para aprofundarmos a discussão dos dados quanto a marcações discursivas de ambos os termos isoladamente e também de forma conectada.

Dia do Índio

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A partir do primeiro Congresso Indigenista Interamericano realizado no México em 19 de Abril de 1940, para tratar de questões relacionadas aos índios nas Américas, foi recomendação de uma delegação de indígenas do Panamá, Chile, Estados Unidos e México, e posteriormente decretada como lei no Brasil por Getúlio Vargas, que a data seria considerada o Dia do Índio. Em toda a América o mesmo ocorreu, nos países americanos de língua espanhola surgia o Día del Indio Americano. Entre as recomendações da delegação indígena estava a de que nesta data haveria a celebração da história e cultura dos índios, por meio do estudo de seus problemas atuais em instituições de ensino. Provavelmente você que está lendo este post já participou do Dia do Índio quando na escola. Mais do que uma lei, as comemorações aos indígenas se tornaram tradição no Brasil, com algumas escolas estendendo a data para uma semana inteira de atividades relacionadas a cultura dos povos nativos americanos.

Neste 19 de Abril de 2016, a palavra “índio” permaneceu trending topic (assunto do momento) no Twitter durante o dia inteiro, e coletamos os tweets para saber quais foram as co-ocorrências de palavras mais frequentes no discurso relacionado a data na internet. Ao todo, foram coletados 24.437 tweets com o NodeXL, e apresentamos os dados discursivos a partir da leitura que fizemos no Textometrica, sob o critério de a palavra ser mencionada no mínimo 50 vezes e excluindo resultados em línguas estrangeiras, disponibilizando para a análise apenas as publicações em Português do Brasil. Para finalizar, usamos o Gephi na construção dos grafos (clique na imagem para ver maior) que apresentamos a seguir:

Indio

Figura 1. Co-ocorrência de palavras no Twitter relacionadas a “índio” em 19/4

O primeiro grafo apresenta uma distribuição de co-ocorrências em relação a palavra “Índio”. Notamos a presença da palavra “Brasil” conectada a “indígenas”, “devolver” e “presente”. Percebemos aí também uma rede que tem atores protagonistas do discurso, como @gustastockler, @oBrasilBR e @VocêNaoSabiaQ. Pelas menções, observamos a lembrança de que no dia 19 de abril também é comemorado o dia do Exército brasileiro, e que a data é chamada Día del Indio Americano em países de língua espanhola das Américas e em regiões povoadas por latino-americanos, como o litoral oeste dos Estados Unidos. Há também o pronome de tratamento “mim”, que foi usado tanto em publicações que lembravam o Dia do Índio reiterando uma linguagem composta pelo uso do pronome exageradamente, como em tweets que traziam a ligação com “verbo” no sentido de lembrar a regra gramatical “mim não conjuga verbo” da língua portuguesa.
O grafo a seguir apresenta os dados de forma normalizada, com melhor visualização do que seriam as conexões mais fortes das conversações. (clique na imagem para ver maior)

grafonormalizado

Figura 2. Grafo normalizado com palavras co-ocorrentes no Twitter

“Brasil”, “devolver” e “presente”, representado em laranja no grafo, fazem menção a tweets dizendo que o melhor presente aos índios seria devolver o Brasil para os nativos. Estes tweets foram apresentados tanto em tom de ironia quanto de insatisfação com o País. “Mim” e “verbo”, como dito antes, estão fortemente ligados no grupo representado em verde. A palavra “escola” vem acompanhada de “a gente” em tweets nostálgicos sobre a época escolar em que nesta data os atores costumavam realizar atividades escolares e voltar pra casa com a cara pintada. 
Percebemos, assim, a grande ocorrência de termos em comemoração pela data (“parabéns”, “presente”), o forte uso da linguagem estereotipada (“mim”), além da data sendo celebrada também no restante das Américas do Sul e Norte. No entanto, não houve grande representatividade de posts mencionando questões políticas e sociais atuais referentes aos índios no Brasil, na América ou no restante do mundo, como proposto pelo Congresso Indigenista Interamericano nos Anos 40, apesar de a data ter original e oficialmente esta motivação. 


“Bela, recatada e do lar”: o compartilhamento no Facebook como apoio e oposição à matéria da Veja

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por Carolina Rodeghiero, Letícia Schinestsck e Pricilla Soares

Em sequência do post sobre as formações discursivas da hashtag #belarecatadaedolar no Twitter, analisamos também as co-ocorrências de palavras que apareceram em compartilhamentos da publicação da matéria da Veja na página da própria revista no Facebook. Coletamos o conteúdo de todos os compartilhamentos feitos de 18 a 20 de abril, que, com ou sem texto, somavam 2.500. (clique na imagem para ver maior)

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Figura 1. Matéria da Revista Veja, publicada em 18/4/2016

Os compartilhamentos foram feitos por homens e mulheres, estas, a maioria. A maior parte das mulheres que adicionou aos compartilhamentos textos comentando a publicação da Veja lamentou a publicação e se representou de maneira diferente a de Marcela, mostrando o que seria, então, uma “mulher de verdade”. Houve também compartilhamentos de mulheres que corroboraram o discurso da revista Veja, elogiando Marcela Temer, a chamando de linda e reafirmando que ela será uma ótima “primeira dama”. Há novamente a construção social de representação do gênero feminino e a tentativa de desqualificar quem não representa a norma, ou seja, as mulheres que desconstruíram a matéria da Veja. Compilamos o texto de todos os compartilhamentos públicos realizados até a noite do dia 20 no Facebook, e apresentamos a seguir o grafo de co-ocorrências de palavras nesses compartilhamentos. A primeira diferença deste para os grafos do Twitter é que não há a hashtag #belarecatadaedolar, já que a coleta foi feita manualmente e não houve, nos textos coletados, sua menção. (clique na imagem para ver maior)

Bela recatada e do lar_facebook_naonormal_completo

Figura 2. Grafo de co-ocorrências em compartilhamentos da publicação de @Veja no Facebook

No grafo do Facebook também percebemos os diferentes grupos discursivos. O grupo representado em laranja, por exemplo, cita bastante o texto da matéria da revista, uma forma de marcar o assunto assim como a hashtag no Twitter. “Bela”, “recatada” e especialmente “do lar” estão fortemente ligadas a “homem”, “sorte”, “cuidar”, “casa”, “escola” e “Michelzinho”, todas palavras abrangidas pela Veja no que apresentava o perfil de Marcela e a chamada sorte de Temer por ser casado com ela. O grupo em verde é mais protestante em relação à “@Veja”, chamando a revista de “machista”, apresentando um sentimento de “vergonha” e “nojo” em relação a publicação e comparando o ideal de mulher da revista como do “século passado”. Usa bastante a tag #VejaMachista e em alguns momentos fala em “golpe” no sentido de dizer que uma mulher de 20 anos casar com um homem de 62 certamente podemos chamar assim. Em alguns casos contrariando e em outros ironizando este grupo, as formações discursivas em azul se dividem entre as que falam em “amor” sob qualquer circunstância,  reforçando Marcela como uma “primeira-dama” “linda” e “boa”.  

Quanto aos homens que compartilharam a postagem, a maioria deles não faz comentários quando a compartilha. Algumas das postagens compartilhadas por eles recebe outros comentários, também de homens, que elogiam Marcela e a comparam com “Dilma” – aqui há, ao contrário das postagens no Twitter, mais nitidamente a comparação entre as duas mulheres, principalmente em relação à beleza. Há também comentários nas postagens compartilhadas de mulheres que são avessas ao discurso proposto pela Veja.

Os homens que compartilharam a postagem com comentários se dividem entre os que ressalvam o discurso da Veja e aqueles que o criticam; os primeiros dizendo que Marcela Temer representa realmente uma primeira-dama, e os demais lamentando a escolha discursiva da matéria. No caso dos que reiteram a mensagem propagada pela revista, os comentários apagam a existência de Marisa Letícia, esposa de Lula e primeira-dama durante o período em que ele ocupou o cargo de presidente, como na frase “depois de 13 anos o Brasil finalmente ganhará uma primeira-dama”. Ou seja, apaga-se a figura de uma mulher que não representa o gênero feminino como recatado, belo e do lar.  

Twitter x Facebook

Diferentemente do que vimos nos tweets, os compartilhamentos da publicação de Veja no Facebook não trazem a hashtag #belarecatadaedolar, e não usam da ironia observada no fenômeno de publicações de fotos de mulheres do Brasil inteiro no dia 20, apresentando-se em comportamentos diferentes dos retratados pela Veja sobre Marcela Temer.  Vemos aqui, sim, um dos focos da repercussão da matéria, talvez o start para o fenômeno de manifestações que surgiram.

Nos compartilhamentos é possível perceber as relações que os próprios usuários da rede estabelecem no fato de Marcela estar exclusivamente ligada ao lar, ao filho, ao cuidado com a casa e com o marido, ao fato de ela ser considerada bela e de Michel Temer, justamente e unicamente por estes atributos, ser um homem de sorte. Quem apoia a matéria reafirma a beleza de Marcela, e muitas vezes a compara com Dilma. E quem a contraria cita trechos ou usa expressões presentes na revista para justificar os pontos dos quais diferem. É possível reiterar essa observação pelo número de vezes em que o texto da revista foi citado nos compartilhamentos como forma de replicar o conteúdo da publicação com os demais membros do Facebook. Alguns dos atores trazem declarações de que jamais compartilhariam algo da Revista Veja, mas que pelo teor do conteúdo se sentiram obrigados a fazer.

Ambos Twitter e Facebook tiveram tom de protesto e opiniões a favor e contra a Veja, mas nesta análise o Facebook se apresentou, sob a observação de comentários anexados aos compartilhamentos, como um primeiro contato do ator com a notícia, e fora do movimento observado no Twitter. Neste sentido precisamos levar em conta que coletamos  os compartilhamentos diretamente da fonte da notícia, e não daqueles que constituíram a manifestação mediante a #belarecatadaedolar em posts no Twitter e fotos do Instagram com a tag que viralizou.
Metodologia
Coleta: manualmente
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

#BelaRecatadaedoLar: como a hashtag foi apropriada no Twitter

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por Pricilla Soares, Letícia Schinestsck e Carolina Rodeghiero

Nos últimos dias acompanhamos na internet a manifestação de muitas mulheres e também de alguns homens postando textos e especialmente fotos com a hashtag #belarecatadaedolar. A viralização da tag se deu originalmente pela publicação de uma matéria da Revista Veja, que apresenta a vice primeira-dama Marcela Temer em fatos contados por pessoas de seu círculo familiar e social. A Veja exalta a personalidade e estilo de vida de Marcela, que, como o próprio título da reportagem apresenta, se resume em ser uma mulher bela, recatada e do lar.

Houve grande repercussão da matéria em sites de redes sociais como o Twitter e o Facebook. Em dois posts (veja o outro post aqui) nos propomos a analisar dados de co-ocorrência de palavras encontradas em publicações de ambos os sites. No Twitter, coletamos tweets sob a hashtag #belarecatadaedolar em três momentos do dia 20 de abril; e no Facebook extraímos os textos de compartilhamentos da publicação da página da Veja no site realizados do dia 18 (data da publicação) até o dia 20.

Coletamos ao todo 35.948 tweets em três momentos do dia: às 11 horas da manhã, às 16 horas e às 17h30min da tarde. Para analisarmos as co-ocorrências de palavras no Twitter, iniciamos com os dados da coleta das 11h, passamos pela das 16h e finalizamos com a das 17h30min, as três do dia 20 de abril. Para extrair os dados, usamos o NodeXL. Já a formatação e filtro fizemos com o Notepad++ e o Textometrica, enquanto os grafos finais foram criados com o Gephi. Com os grafos representativos das co-ocorrências de palavras em relação à hashtag #belarecatadaedolar no Twitter, temos uma visualização nítida sobre o que está sendo discutido na internet em relação ao assunto. O grafo a seguir apresenta as menções encontradas nas primeiras horas de discussão do #belarecatadaedolar no Twitter. Ao todo, foram coletados 2.872 tweets.

Para analisarmos as co-ocorrências de palavras no Twitter, iniciamos com os dados da coleta das 11h, passamos pela das 16h e finalizamos com a das 17h30min, as três do dia 20 de abril. Para extrair os dados, usamos o NodeXL. Já a formatação e filtro fizemos com o Notepad++ e o Textometrica, enquanto os grafos finais foram criados com o Gephi. O grafo a seguir apresenta as menções encontradas nas primeiras horas de discussão do #belarecatadaedolar no Twitter. Ao todo, foram coletados 2.872 tweets. (clique na imagem para ver maior)

BRdL_Twitter_11h_normalFigura 2. Grafo das co-ocorrências no Twitter às 11h do dia 20/4/2016

Em uma primeira observação, percebemos em laranja a forte ligação entre “Revista Veja”, “homenagem” e “bordadinho”, vendo que essas palavras também estão conectadas a “machismo”. Tal grupo discursivo faz menção à matéria da Veja de forma crítica e contra a mensagem contida na revista. O grupo representado em verde está diretamente ligado ao primeiro, contendo a menção “mulher”, bem forte na rede, junto a “vida”, “exemplo”, “decorativa(o)” e “machismo”, sugerindo aqui a série de posts em que o apelido “decorativo” também serve para a esposa de Michel Temer, que sofre críticas sobre ser um vice-presidente decorativo no Governo. “Exemplo” e “vida” são fortemente ligados por exaltarem como a Veja anuncia Marcela Temer como um exemplo de vida, e sua ligação com “machismo” opina que atores são contrários a esta opinião. O grupo em azul liga sempre Marcela ao marido Michel Temer, e o grupo em roxo representa os tweets que mais fizeram menção a outras hashtags, como #vejamachista, #SQN e #ficaquerida, apresentando aí mais discursos contrários à Veja.

Espaço de desconstrução

Com a tag #belarecatadaedolar e a relação de uso de termos como “machismo”, “homenagem”, “bar” e “patriarcado” percebe-se a tentativa de desconstrução daquilo que a Revista Veja tentou reproduzir na matéria, sobre o que seria aceitável em uma pessoa do gênero feminino na sociedade atual. Entendendo o gênero como uma construção social e que sofre interferências de contextos históricos e culturais (Butler, 2013; Scott, 1995) pode-se compreender que são usados alguns termos e tags como #vejamachista e #sqn para reafirmar que a revista está estabelecendo um padrão de gênero feminino que não é tão corroborado por alguns grupos sociais.  A própria tag que gerou o protesto e os espaços de fala criados a partir dela, contrários ao que as palavras “recatada” e “do lar” significam, já representam uma quebra discursiva. Há a relação direta dos termos “Veja” e “homenagem”, que usam o recurso do humor e da desconstrução de uma norma que performatiza o gênero feminino, a fim de tentarem estabelecer novas formas de ser e agir das mulheres.  Há ainda a presença da tag #FicaQuerida, apresentada na Figura 2, criada em oposição ao slogan “tchau, querida” dos deputados federais que são a favor do impeachment, e que discursivamente também apresenta características de violência simbólica contra o gênero feminino.

Outros tweets são mais didáticos, explicando que a crítica e o protesto não são contra Marcela Temer, mas sim contra a visão machista da Revista Veja (#vejamachista), que coloca a mulher não como parte de um todo social, mas sim a limita ao lar, ou a uma vida mais tradicional.
No meio da tarde, com a hashtag ainda mais trending, coletamos o total de 15.945 tweets às 16 horas. Desta coleta surgiu o grafo a seguir, que apresenta em cores os principais grupos discursivos do momento em que muitas pessoas estavam discutindo o assunto ao mesmo tempo no Twitter. (clique na imagem para ver maior)

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Figura 3. Grafo das co-ocorrências de palavras no Twitter às 16h do dia 20/4/2016

A começar pelo grupo em amarelo, percebemos novamente a palavra “homenagem”, ligada desta vez a “ops” e aos principais atores nessas co-ocorrências. O grupo em verde liga #belarecatadaedolar a tag #vejamachista, “machismo”, “foto”, “parecidas” e “bar”. Aqui percebemos a já existência na rede do movimento em que diversas mulheres postaram fotos e imagens em tom de ironia quanto a serem também “belas, recatadas e do lar”, o que, neste caso, aparecia também como do “bar” nas publicações. O grupo discursivo em azul aparece sob as palavras “Temer”, “primeira dama”, Marcela Temer”, “presidente”, “namorado” e “diferença”. Vemos aí uma discussão em torno dos personagens da matéria em si, Michel Temer já apresentado como presidente, Marcela Temer como primeira dama, e também o comentário sobre ele, com 43 anos de “diferença” de idade para ela, provavelmente ter sido o primeiro “namorado” da moça, que tinha 19 anos quando tiveram o primeiro encontro.

Outro grupo usa co-ocorrências como “mulheres”, “contra”, “tradicional”, “casa” e “anos”, e este grupo está conectado ao que menciona a palavra “feminista” em azul claro, junto a “mulher” e “lugar”.

O #SQN – “só que não” – aparece novamente. Com apenas três letras, a expressão tem o poder de desconstruir toda a composição do tweet. Assim, o discurso significa seu contrário somente pelo uso da hashtag. Observamos o uso de #SQN especialmente nas postagens que ironizam o próprio usuário, isto é, publicações em que o indivíduo utiliza sua própria imagem para se mostrar contra o discurso da Veja e não apenas apropriar-se de uma figura pública (Marcela Temer) para a construção de seu posicionamento sobre o assunto. De um jeito bem humorado, atores na rede começaram a se “auto-memetizar”, se é que podemos chamar assim, e engajar-se no movimento na rede.

Só foi possível participar do #belarecatadaedolar aqueles que buscaram em seu cotidiano momentos nos quais seu comportamento seria julgado oposto a belo, recatado e do lar. Para “brincar” com a rede, portanto, é preciso que se pense uma maneira que esteja inserida na proposta e isso, consequentemente, obriga que se faça um esforço mental e se reflita sobre o que está acontecendo no contexto atual onde se está inserido. Saber como se enquadrar na piada para que ela tenha graça. Que sentido haveria se as mulheres postassem fotos cuidando da casa, cozinhando ou coisas parecidas, se não houvesse o entendimento comum da hashtag? Desta forma, o humor contribui como o gatilho para que o discurso conservador utilizado na matéria da Veja seja questionado e refletido por usuários que sequer são atingidos por outras vias, mas que se sentem provocados e instigados a participar da mobilização coletiva online.

“Feministas”

O termo “feminista” aparece com menor ênfase, mas é usado categoricamente como um termo pejorativo. Os tweets que citam “feminista” ou “feministas” também estabelecem uma representação para pessoas do gênero feminino que não se encaixam nas expectativas por elas esperadas.  Os discursos criados em tornos dos termos usados estabelecem uma norma e uma violência simbólica e sistêmica (Bourdieu, 1989; Žižek, 2009) , que tenta recolocar as mulheres “em seus lugares”, afirmando o que as mulheres “tem que ser”  e qual o “lugar de mulher”.

A própria postagem da @mc_caroloficial usando o humor desconstrói a ideia padronizada do que representa o gênero feminino para as próprias mulheres, mas também estabelece comparações diretas entre Marcela Temer e seu estilo de vida, o que pode gerar diferentes interpretações.

A última coleta do Twitter foi às 17h30min, com #belarecatadaedolar ainda trending. Criado a partir desta coleta, o grafo da Figura 4 apresenta grandes semelhanças em comparação ao anterior. No grupo azul, por exemplo, observamos novos termos como “Rihana”, “recatado” e “belo”. O nome da cantora se misturou ao assunto pela estréia de um videoclipe no dia 19, cuja crítica considerou “para maiores de idade”, ou seja, nada recatado, sob a ótica da linha editorial da Veja. (clique na imagem para ver maior)

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Figura 4. Grafo de co-ocorrências no Twitter às 17h30min do dia 20/4/2016

É interessante o uso de recato e beleza desta vez para qualificar o masculino. Isso se deu especialmente por publicações que tentaram abordar o tópico de forma a inverter a situação e apresentar, por exemplo, alguma figura política como belo, recatado e do lar, e o quanto isso, na opinião dos atores, também não faria sentido.

Comparações entre Marcela Temer e Dilma Rousseff

Por fim, observamos que apesar do perfil de Marcela Temer ter sido divulgado pela Revista Veja em um momento político do País no qual uma presidenta mulher está sendo julgada em um processo de impeachment, de outras reportagens terem surgido falando sobre o “descontrole emocional” de Dilma Rousseff, e outras publicações contendo violência simbólica e de seus estereótipos  (como foi o caso da revista IstoÉ, que também suscitou um protesto no Facebook e no Twitter), a presidenta não foi muito citada nos tweets, deixando o foco do protesto realmente para a publicação da Revista Veja, sem estabelecer discursos comparativos sobre diferenças no tratamento dado a essas mulheres e o que elas representam socialmente.

 

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

Estupro coletivo: repercussão e análise comparativa no Twitter

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 Pesquisa e post por Pricilla Farina Soares

Nos últimos dias usuários/as de sites de rede sociais como o Twitter e o Facebook vem falando sobre o caso de estupro coletivo da adolescente de 16 anos, que aconteceu no Rio de Janeiro, e também sobre a cultura do estupro no País. O tema começou a gerar repercussão no dia 25 de maio, quando usuários do Twitter estavam pedindo que os perfis de três acusados do estupro coletivo tivessem suas contas denunciadas. Um deles divulgou um vídeo da adolescente no Twitter e outros postaram fotos da menina no Facebook.

Coletamos ao todo 55.165 tweets em quatro momentos, do termo “estupro”. Duas coletas foram feitas no dia 25 de maio, uma ao meio-dia e outra às 16h30, uma coleta feita no dia 26 de maio, às 17 horas, e a última no dia 28 de maio, 00h30. O intuito era fazer grafos representativos das co-ocorrências de palavras em relação ao termo a fim de visualizar o que estava sendo discutido em relação ao assunto na rede e as modificações com o passar dos dias.

Primeira coleta: dia 25 de maio, meio-dia

O grafo abaixo (grafo 01 – clique na imagem para visualizar maior) representa as principais menções encontradas logo que o termo surgiu nos trending topics no Twitter. Ao todo, foram coletados 15.609 tweets, no dia 25 de maio.

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Grafo 1:  co-ocorrências no Twitter ao meio-dia do dia 25/05/2016

Observando o grafo apesar da dispersão de tweets há três grupos que aparecem com as arestas (as conexões dos termos) em maior evidência. O grupo em vermelho se refere ao Acusado 01, que divulgou o vídeo da adolescente na rede, onde as pessoas o chamam de “moleque” e “metido a transão”, relacionado ao termo bebida (que ele teria dado à jovem), afirmando que ele havia filmado a adolescente, linkando o perfil dele para que as pessoas fizessem a denúncia. No grupo em azul há menções ao perfil da Polícia Federal, indicando os perfis dos acusados de divulgarem o vídeo e as fotos, e o termo “investigue”, pedindo que a Polícia faça algo a partir da denúncia desses perfis. O grupo em verde se refere a um usuário (que recebeu diversos retuites) da rede que faz menção a Polícia do Estado do Rio de Janeiro, pedindo que se tome uma atitude.

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Quanto maior o termo aparece nos grafos, mais vezes ele foi citado nos tweets, portanto, além do termo estupro, que foi a palavra usada para a coleta, surgem também os termos garota, menina e mina, todos relacionados à adolescente que sofreu o estupro coletivo e foi exposta na rede. Consequentemente o perfil do Acusado01, que divulgou o vídeo da menina, também aparece com destaque nos termos mais usados, assim como “vídeo”, “denunciar” e “divulgaram”.

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No grupo em verde, na parte inferior do grafo, aparece a relação dos termos “vítima” e culpa”, na qual a maioria dos tweets afirmava que a culpa não é da vítima. Aparece também o termo “nojo”, em que as pessoas se referem ao nojo que sentem do mundo em que estão vivendo, “crime”, com tweets dizendo que estupro é crime, e o repúdio a quem estava “compartilhando” (ainda que com o intuito de que as demais denunciassem) ou que estavam rindo do vídeo. Neste primeiro grafo as menções e as relações dos termos tem como foco a denúncia dos perfis de quem compartilhou o vídeo do estupro coletivo da garota, já que a rede recém havia ficado sabendo do que estava acontecendo. Há, portanto, uma mobilização para que as denúncias sejam feitas e um repúdio ao que aconteceu.

Segunda coleta: dia 25 de maio, 16h30

A outra coleta, feita no mesmo dia, mas no período da tarde (16h30) traz outros termos. No segundo grafo (grafo 02) foram coletados 18.767 tweets, e nele os clusters estão mais separados, o que torna possível perceber os discursos mais nitidamente. No grupo rosa/roxo surgem os termos “desprezível”, “nojento” e “desumano”, para se referir ao ato do estupro.

 

grafo2

 

Grafo 2:co-ocorrências no Twitter às 16h30 do dia 25/05/2016

No grupo em azul o termo “machismo”, “homem” e “indignassem” aparecem relacionados a um tweet da Usuária 02 que fala que gostaria que os homens se indignassem com estupro e machismo assim como se indignam ao serem generalizados. Isso porque muitos tweets estavam falando sobre o medo em relação aos homens e as tentativas de justificar o estupro coletivo por parte deles. A palavra “piada” aparece com destaque em tweets que explicitam o fato de que o estupro não deve ser tratado com piadas.  

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Novamente os termos “culpa” e “vítima” aparecem, com tweets reafirmando que a culpa não é da vítima, e então também há o grupo em verde com os termos “culpado” e “estuprador”, na qual os tweets indicam que o culpado pelo crime é sempre o estuprador, e não a vítima.

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Os termos “bêbada” e “roupa” também aparecem em tweets afirmando que não interessa se a mulher está bêbada ou a roupa que ela está vestindo, não há justificativa para o estupro. “Direito” aparece em tweets para dizer que ninguém tem o direito de violar o corpo da mulher, termo que também aparece com destaque. O termo “defendendo” está linkado ao “justificativa” porque muitas pessoas se mostraram indignadas com o fato de que há pessoas buscando justificativas e defendendo o ato. O grupo em laranja aparece com os termos “estupro coletivo”, com menções ao perfil da Polícia Federal e o Acusado 01, que após as denúncias e o fato já ser de conhecimento da rede – e o perfil dele ter sido bloqueado – não recebe tantas menções.

Terceira coleta: 26 de maio, 17h00

A terceira coleta do termo “estupro” – que já não aparecia mais nos trending topics – foi realizada no dia 26 de maio, às 17h00, onde foram coletados 15.877 tweets (grafo 03). Os termos de maior evidência gerados neste grafo são “estupro coletivo”, “garota/menina/moça”, referindo-se à adolescente estuprada, outro termo que também aparece em evidência, assim já surge também o termo “cultura do estupro”, assunto que foi muito debatido no Twitter e também no Facebook e gerou uma série de questionamentos sobre o que é e como combater a cultura do estupro.

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No grupo em azul é possível perceber que há a relação das palavras “crime”, “vítima”, “violência”, “polícia”, “garota/menina/moça”, “estuprada”, “suposto” e o perfil do @JornalOGlobo, que aparece noticiando sobre o estupro coletivo. Havia tweets debochando e reclamando do fato dos veículos de notícias estarem usando o termo “suposto” para tratar do estupro, ainda que existam vídeos e fotos do acontecido.

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Grafo 3: co-ocorrências no Twitter às 17h do dia 26/05/2016

No grupo em vermelho aparecem relacionados os termos “absurdo” e “feminista”, sobre tweets que diziam que não era necessário alguém ser feminista para achar estupro um absurdo. O termo “feminista” também apareceu em tweets dizendo que as feministas omitiram o fato de que foi a ala “machista” que denunciou o vídeo. Os termos “machismo” e “feminismo” também aparecem fazendo contraponto sobre a cultura do estupro, falando sobre a necessidade do feminismo e a existência do machismo na sociedade.

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O outro cluster do grafo, em roxo, usa os termos “terror”, “indignação” e “tristeza” sobre a reclamação de uma usuária que se diz indignada por ter postado sobre o estupro com tristeza e ter recebido piadas como resposta. O termo doença surge novamente a fim de reafirmar que ser estuprador não é doença, por isso o termo aparece, ainda que não muito evidente, relacionado à expressão “cultura do estupro”.

Quarta e última coleta: 28 de maio, 00h30

A última coleta foi feita na madrugada do dia 28 de maio, e corresponde ao menor número de tweets: 4.912. Além do termo “estupro coletivo” a expressão “cultura do estupro” aparece como um dos termos mais citados e mais centrais.

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Grafo 4: co-ocorrências no Twitter, 00h30 do dia 28/05/2016

O grupo em azul faz referência a uma notícia do @JornalOGlobo, sobre especialistas falando como a cultura machista culpa as vítimas de estupro. O perfil do @UOLNotícias também aparece comentando sobre o caso no Brasil, e o termo “imprensa internacional” traz tweets que ressaltam o fato de o caso ter repercutido em outros países. Os termos “jogador” e “suspeito” se referem ao ex-namorado da adolescente, acusado de participar do estupro coletivo.

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O termo “justificativa” (em verde) aparece relacionado ao termo “mulheres” e a tag “#EstuproNãoÉCulpaDaVítima” (que apareceu no Twitter no dia 27 de maio), com o intuito de desconstruir o discurso da cultura do estupro que tenta buscar justificativas para as mulheres vítimas de estupros ou outras violências. “Piada” é referente a mais de mil retuites no qual Usuário 06 afirma já ter feito piada sobre estupro há alguns anos, mas que sua mentalidade era totalmente infantil.

Resumo:

Com as quatro coletas realizadas percebe-se que no primeiro grafo o intuito das pessoas era, principalmente, pedir que os perfis dos acusados fossem denunciados, já que um deles havia postado o vídeo da menina que sofreu o estupro coletivo. Os perfis da Polícia Federal e da Polícia do Rio de Janeiro são mencionados e os comentário são sobre o que está acontecendo. Também surgiram tweets recriminando aquelas pessoas que estavam compartilhando o vídeo, ainda que com a intenção de fazer com que as pessoas os denunciassem.

Já no segundo grafo a repercussão se modifica um pouco e começa a se construir discursos de repúdio ao ato, o reforço de que a culpa não é da vítima, mas sim do estuprador, e que independente da roupa que a mulher veste seu corpo não deve ser violado, assim como o termo machismo surge para mostrar que os homens poderiam se chocar com o machismo assim como se chocam quando ao falar de violência contra a mulher eles acabam sendo generalizados.

O termo “cultura do estupro” surge nos terceiro e quarto grafos, assim como os termos “violência”, “feminista” e “feminismo”, construindo a ideia de que há, na verdade, uma cultura de violência contra a mulher, de reafirmação de que o estupro não é uma doença e a presença dos termos “justificativa”, “justificar” ou #EstuproNãoÉCulpaDaVítima, que reforçam a ideia de que não há como justificar tal ato. Parece haver uma necessidade bem pontual de caracterizar esses discursos para que as pessoas que buscam justificativas não as façam.

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

#EstuproNãoéCulpadaVítima: a hashtag que viralizou nas redes e sua repercussão no Twitter

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Pesquisa e post por Letícia Schinestsck

A publicação de um vídeo apresentando imagens de uma adolescente desacordada, nua e cercada por homens, no Rio de Janeiro, viralizou nas redes sociais no dia 25 de maio. A jovem, ao prestar depoimento à polícia, afirmou ter visto, ao acordar, 33 homens ao seu redor. Com o caso, houve grande repercussão sobre o ocorrido, que levou a manifestações online e presenciais de mulheres e também homens em todo o Brasil e até internacionalmente.

Levando em conta que um dos focos de pesquisa do Grupo MIDIARS, o discurso da violência simbólica e de gênero, buscamos apresentar neste post a síntese de uma investigação sobre o movimento que emergiu na rede por meio da hashtag #EstuproNãoÉCulpadaVítima, que teve forte apoio e solidariedade à menina e a casos diários de violência contra a mulher, e segue acompanhando manifestações online sobre assédio às mulheres. O compartilhamento das imagens causou revolta e indignação, mas também contou com comentários que refletem a mulher, vítima, como culpada de seu próprio assédio, responsável pelo que acontece nesses casos. Assim, objetivamos coletar e apresentar ambos e demais discursos para entendermos em parte como foram constituídos os tweets em torno deste assunto e como está disposta a violência discursiva contra as mulheres neste caso. Também nos interessa observar os discursos dominantes em cada grupo e identificar os pares de palavras que aparecem mais juntos em cada cluster e qual a sua frequência.

Para isso, analisamos o uso da hashtag no Twitter no dia 27 de maio, com dados coletados às 18h30min. São observações relativas somente ao momento da coleta e aos 17.578 itens analisados, não generalizando todos os dados relativos à tag em nossa conclusão. O método de análise que utilizamos foi, resumidamente, a coleta pelo NodeXL Pro, a formatação e filtro de palavras pelo Textometrica, e a leitura dos dados e formatação da distribuição dos grafos pelo Gephi. A partir dos grafos prontos através desses softwares pudemos observar a aproximação de palavras e entender como os termos se conectaram entre si nos discursos em torno da hashtag naquele momento na rede.

Separação por Clusters

A primeira imagem apresenta a separação dos grupos discursivos por clusters, ou seja, por aqueles atores que conectam outros atores dentro da rede.  (clique na imagem para ver maior)
Imagem1_Grupos_1

Figura 1. Separação dos grupos discursivos

Os grupos separados em cores concentram discursos que, apesar de pertencerem a grupos distintos, estão interconectados. Observando os dados no NodeXL, a maior parte dos grupos forma um misto de relatos de situações vividas por mulheres e suas experiências individuais e coletivas que apontam o assédio e demonstram revolta e desprezo para com opiniões que têm emergido na rede, aquelas que tentam justificar o que aconteceu pelas atitudes e estilo de vida da própria vítima. Ainda assim, há a separação de grupos que defenderam a causa da menina, do feminismo, protestando contra o machismo e a cultura do estupro; e também aqueles que fizeram o oposto, expondo a adolescente como culpada pela situação, ou então emitindo opiniões contrárias às do movimento feminista na rede.

Organizamos uma tabela com as principais palavras usadas em cada grupo, seguida do número de vezes em que foi utilizada a fim de facilitar a visualização dos discursos predominantes em cada cluster.  (clique na imagem para ver maior)

Imagem2_tabela

Percebe-se o quão próximos se encontram as expressões, embora façam parte de grupos distintos. A discussão dos grupos parece girar em torno das causas de estupros e as justificativas usadas pelos outros para abrandar ou legitimar a violência, como o par de palavras do G2 (roupa + curta) e G3 (justifica + estupro). O destaque é para a mobilização que dá nome à hashtag #EstuproNaoÉCulpaDaVitima que, no G1, apresenta informações específicas do caso do estupro no Rio de Janeiro, como a dupla “30 + homens” e o que diz respeito ao culpado, lembrando que há uma tendência de culpabilizar os outros e escolher sua sentença junto ao coletivo, como veremos ainda. No G4 também é possível identificar o debate em torno de “causas + estupro”. Já o G5 apresenta uma situação específica de um tweet publicado pelo Usuário7 e repudiado por muitos internautas, como é possível visualizar no grafo.

Um exemplo do grupo discursivo que defendia a menina foi o tweet de @Usuário1, que tem mais de 620 mil seguidores no Twitter. (clique na imagem para ver maior)
Imagem3_tweet

O discurso de @Usuário1 é exemplo do valor que predomina na rede no momento da coleta. O G1, representado na imagem em azul enfatiza a discussão em cima da cultura do estupro; o G2, azul claro, lembra a questão da roupa e de bandeiras levantadas por deputados polêmicos como Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, que foram criticados pelo repúdio aos homossexuais e conformidade com o caso em que uma menina de 16 anos foi supostamente agredida sexualmente por, no mínimo, 30 homens. “@UsuárioX: Ninguém MERECE ou PEDE pra ser estuprada!!! Não existe JUSTIFICATIVA pra essa catástrofe. Deixa de ser IMBECIL!!! #EstuproNaoÉCulpaDaVitima”, diz um internauta. Outro usa o próprio caso da jovem carioca para expressar sua indignação “@UsuárioY: “Se ela era piranha o problema é dela, nada justifica um estupro, nem 1 nem de 33 homens” -Meu Pai! #EstuproNaoÉCulpaDaVitima Cada um a sua maneira, mas todos os clusters naquele momento pareciam sustentar a ideia de que nada justifica o estupro.

Com o NodeXL tivemos uma ideia do tipo de discurso que circulava em cada grupo no momento da coleta. Ao todo foram 224.994 palavras, sendo as principais, como já havíamos apontado, a hashtag #EstuproNãoÉCulpaDaVitima (11.275 vezes), seguido das palavras “estupro” 2.979 vezes), “pode” (1.769), “nada” (1.587 vezes) e “justifica” (1.284), reforçando nossa conclusão de que a rede replicava tweets e discursos que desconstruíam qualquer tipo de justificativa para o ato.

Com a breve visão geral sobre a separação dos grupos discursivos na rede, passamos a observar a rede em sua estrutura de conteúdo. Para isso, apresentamos então os grafos com representações das palavras mais citadas, como elas co-ocorrem e se conectam na rede. Nesta etapa, analisamos o mesmo corpo de dados, isto é, os 17.578 tweets publicados com a hashtag #EstuproNãoÉCulpaDaVitima.

O primeiro grafo (clique na imagem para ver maior) representa os dados de co-ocorrências de palavras ligadas a #EstuproNãoÉCulpadaVítima, no momento da coleta em 27 de maio:  (clique na imagem para ver maior)
Imagem4_Grafo1

Grafo 1. Distribuição das co-ocorrências de palavras 

Ressaltamos em verde a forte conexão entre as palavras “homens” e “medo”, e vemos em laranja “mulheres” e “estuprada”, também relacionadas a “roupa” e “estupram”. Em verde, “medo” também é ligado a “sozinha”, apresentando o sentimento comum entre muitas mulheres quando precisam andar sozinhas na rua em horários e locais não propícios à segurança. Um exemplo deste discurso é o retweet:

“Vcs homens nunca vão entender o medo de quando um carro começa a diminuir a velocidade e para pra falar gracinha. #EstuproNaoÉCulpaDaVítima”.

Em roxo, o termo “cultura” é associado a “justifica”, com discursos que entendem que apesar da cultura presente na sociedade, nada serve como justificativa para o estupro. Muitas figuras públicas, especialmente políticas, se posicionaram contra a cultura do estupro. O deputado Jean Wyllys, por exemplo:

RT @jeanwyllys_real: Manifesto contra a cultura do Estupro: não se cale diante de uma violência. https://t.co/4GI4zzejZ7 #EstuproNaoÉCulpaDaVitima

E também a Presidenta Dilma Rousseff, que através da hashtag e de um link para o Facebook do perfil de Dilma Bolada, personagem satírico da mesma, buscou esclarecer o que é, afinal, a cultura do estupro:

“RT @diImabr: O que é a cultura do Estupro? https://t.co/tF9Uk9xC4S #EstuproNaoÉCulpaDaVítima”.

Para a melhor visualização dessas conexões discursivas, apresentamos um grafo normalizado, criado a partir dos mesmos dados, porém com distribuição diferente de nós:  (clique na imagem para ver maior)
Imagem5_Grafo2

Grafo 2. Distribuição das co-ocorrências de palavras em 27/05/2016

Observando a estrutura dos grafos, observamos que existe forte relação entre discursos que associam a questão das vestimentas com estupro de mulheres. Esse tipo de tweet/comentário dá manutenção a valores historicamente construídos e transmitidos pelas relações sociais, seguindo o pensamento de Bourdieu. Ilustramos essa ligação com o tweet a seguir:

“Meu corpo nunca pediu pra ser estuprado e eu uso a roupa que eu quiser! #EstuproNaoÉCulpaDaVitima”.

Mais aparente no segundo grafo, percebemos em roxo a relação de “Spotify” com “Vítimas”, intermediada pela hashtag em questão. Essa conexão entre os termos se explica pelo lançamento de uma playlist feito pelo aplicativo Spotify no qual o nome de cada música, quando lido na sequência, formava uma mensagem contra o caso do estupro coletivo no Rio de Janeiro.  (clique na imagem para ver maior)

Imagem6_TweetSpotify

A discussão sobre as vítimas aparecem em manifestações como no tweet a seguir:  

Imagem7_Tweet3

Também em roxo, a ocorrência de “Ajuda” se refere principalmente a um acontecimento em que o usuário publicou a opinião que dizia preferir o termo “Sexo Surpresa” a “Estupro” e depois deletou, causando muita indignação em perfis femininos, que replicaram o que foi dito junto a um novo tweet do usuário Se é pra ajudar, ajuda de verdade. #EstuproNaoÉCulpaDaVitima”. Muitas usuárias questionavam o jovem, o qual, pelas acusações, parecia manter uma imagem pública com vídeos na própria plataforma, se era desta forma que ele estaria ajudando a situação. Cabe aqui observar que este foi um caso de um indivíduo que teve seus dizeres passados expostos em forma de provas (printscreen/imagem de tela), mesmo após ter deletado da internet a publicação em questão.

Num intermédio entre os grupos em laranja e roxo, o conceito “estupram”, na sua própria forma ortográfica – terceira pessoa do plural – indica do que se fala. Quem estupra: “eles” estupram, pois, segundo os tweets da coleta analisada, “Roupas curtas NÃO estupram. Em razão do que observamos, nem bebidas ou horários, os que estupram são pessoas e olhares que intimidam as mulheres, instigadas a se posicionarem na rede sobre o acontecimento que, apesar de ter origem no que aconteceu a uma jovem, é realidade que envolve a identidade e a história construída por todas elas.

Ao mesmo tempo em que a rede atua para agrupar movimentos e articular causas como essa, em que os direitos da mulher é defendido, também é palco da loucura coletiva, da qual Ronson fala. São situações em que os indivíduos perdem totalmente o controle e uma espécie de loucura contagiosa toma os usuários. Esse tipo de comportamento tende a facilitar os julgamentos e manifestações tão violentas como a causa inicial. O estupro coletivo de que falamos serviu como o pontapé inicial para um amplo debate sobre o tema estupro na sociedade brasileira, especialmente alertando para a existência de uma “cultura do estupro” que, embora sentida na pele diariamente por muitas mulheres, nem sempre são reconhecidas como um tipo de violência e assédio.

Finalizamos esse post com o que foi dito pelo mesmo autor, Ronson, em seu livro Humilhado:  “No Twitter, tomamos nossas próprias decisões sobre quem merece ser destruído. Formamos o próprio consenso, e não somos influenciados pelo sistema de justiça criminal ou pela mídia. Isso nos torna assustadores.” (P.200).  

Independentemente do nível do julgamento e de cada usuário, que sugere múltiplas vinganças para o acontecimento, destacamos a maneira com que a situação foi recebida e reverberada pelos usuários. Vemos que as redes sociais têm servido como palco para que acontecimentos assim, delicados, porém frequentes e ainda pouco debatidos ganhem espaço. A partir de uma mesma hashtag, tivemos acesso à múltiplas narrativas e valores de distintos coletivos que, apesar de singulares estavam representados pela hashtag, que Malini e Antoun (2013) chamam de assinatura. Um ponto comum, uma identidade/assinatura única, que ramifica-se e deixa à mostra, pela rede, a diversidade de narrativas existentes.

Podemos dizer que, ao menos naquele momento, a rede não se mostrava passiva e conformada com o que estava acontecendo. Pelo contrário, o estupro coletivo foi somente o gatilho para que #EstuproNãoÉCulpaDaVítima fosse apropriada e a cultura do estupro na sociedade atual fosse concebida como uma realidade e questionada como tantos outros fatos de interesse público nos quais a rede serve como ponte, como o hub que junta e organiza as informações e os pontos de divergência existentes nas relações atuais.

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

#ErrarÉHumanoPersistirÉBiel

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Pesquisa e post por Pricilla Farina Soares

Nesta semana, no dia 01 de agosto, diversos sites de notícias reproduziram uma matéria em que o cantor Biel fala, em entrevista gravada em vídeo para o Programa TV Fama da RedeTv!, que caso encontrasse pessoalmente a estagiária de jornalismo do site IG que o acusou de assédio, esclareceria o quanto, para ele, ela prejudicou sua carreira. Em junho, a repórter do IG foi assediada ao fazer uma entrevista com Biel, que entre outros comentários a chamou de “gostosinha” e disse que “a quebraria no meio”, caso mantivessem relações sexuais. Biel disse que tudo não passava de brincadeira.

O assédio repercutiu bastante em sites de notícias e, principalmente, nos sites de redes sociais. No dia 06 de junho o youtuber Felipe Neto divulgou um vídeo “Biel- Não Faz Sentido”, que na mesma data chegou aos Trending Topics. No dia 07 de junho a hashtag #CorrentedeAmordoBiel – atribuída aos fãs do cantor – também foi parar nos tópicos mais comentados do Twitter. Alguns dias depois, no dia 13 de junho, outra hashtag foi destaque no Twitter: #BielGostosinhaÉSuaIrmã. No dia 28 de julho o cantor foi novamente lembrado quando foi divulgado um vídeo seu, em uma festa de aniversário em que ele canta a frase pela qual foi acusado de assédio. A hashtag #BielRespeiteAsMulheres chegou, novamente, aos Trending Topics. Esta semana, o cantor reapareceu por meio da tag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel no Twitter, desta vez com a repercussão de sua entrevista ao programa de televisão.

Hoje, nossa proposta foi fazer uma análise em torno da hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel, que surgiu após o depoimento de Biel de que a repórter (assediada por ele) havia prejudicado sua carreira como cantor, e quando usuários do Twitter começaram a publicar tweets antigos dele, entre eles comentários preconceituosos, machistas e racistas. Apesar desses tweets terem começando em função da nova publicação acerca do assédio sofrido pela repórter do IG, a rede que se formou em torno da tag não menciona o fato, já que o que a impulsionou para os TTs foram os prints dos tweets antigos de Biel.

Coletamos ao todo 37.533 tweets divididos em duas coletas no dia 02 de agosto, uma no turno da manhã e outra no turno da tarde. Na primeira coleta realizada no dia 02 de agosto, às 10 horas, coletamos os 18.900 tweets que originaram o grafo abaixo (clique na imagem para ver maior), que apresenta as co-ocorrências de palavras mais utilizadas.

grafo10h

Grafo 1. Dados da coleta #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel realizada às 10h

O grafo apresenta quatro clusters (grupo de tweets que se relacionam pelo conteúdo), mas que também se misturam. Em destaque verde podemos ver as palavras “carreira”, “acabou”, “micão” e “Taylor Swift”. O cluster em rosa está diretamente relacionado à cantora Taylor Swift, na qual os interagentes estabeleceram uma comparação sobre a cantora estar frequentemente envolvida em polêmicas no Twitter e com outros/as cantores/as. Os atores da rede dizem que “cada país tem a Taylor Swift que merece”, usando para isso recursos discursivos característicos do humor para tratar do assunto. Os termos “viciado” “imaginem” e “tweets antigos” também fazem referência sobre o cantor ser viciado em pagar micos. Os atores da rede também estariam imaginando como Fátima Bernardes, Luciano Hulk e Danilo Gentili veriam os tweets antigos de Biel, já que um tempo após os ter criticado ele acabou participando dos programas dos três apresentadores.

A palavra “carreira” está presente em toda rede e os interagentes ficam a todo momento afirmando que a carreia de Biel acabou, por isso a relação dos termos “micão” e “povo”, com tweets sobre o fato do povo “não perdoar”, não deixar passar em branco. Com menos destaque aparecem as palavras “nojo”, referindo-se não necessariamente às ações do cantor, mas sim a ele e às fãs que ainda o defendem. Ao contrário das hashtags anteriores, em que parecia haver uma disputa entre fãs e quem estava criticando, desta vez a disputa não ocorre. As palavras “moleque”, “falsiane” aparecem e, isolados da rede (em vermelho no Grafo), os termos “falsinha” e “escroto”. No cluster em vermelho no canto direito, aparecem os termos “falsa”, “falsianes” e “falsidade”. A palavra “Twitter” também surge e as pessoas parecem comemorar como o fato está sendo encarado no site de rede social.

Os antigos tweets de Biel contém comentários machistas, sexistas e racistas, muitos utilizando o humor para suavizar seu discurso. Além dos tweets há a própria situação no qual o cantor é acusado de assédio e, em mais uma entrevista afirma que a repórter foi quem prejudicou sua carreira. Entretanto, na maioria dos tweets o termo “micão” aparece com destaque, suavizando de certa forma os discursos proferidos pelo cantor – seja em entrevistas, por meio das acusações ou no perfil do Twitter – e dizendo se tratar apenas de uma série de micos que prejudicaram a carreira de Biel.

Na segunda coleta feita também no dia 02 de agosto, às 14h45, coletamos 18.633 tweets sobre a hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel. A segunda coleta apresenta diferentes grupos temáticos, não é uma rede densa e há clusters bem separados, com diferentes focos, ainda que haja a manutenção dos discursos sobre os tweets antigos de Biel. (clique no grafo para ver maior)

14h45m

Grafo 2. Dados da coleta das 14h45min

Há muitos perfis sendo retuitados nesta nova rede, mas os termos “carreira” e “Twitter” seguem com nós maiores, ou seja, continuam sendo muito utilizados. O termo “tag” surge relacionado a “Twitter” e “momento” porque as pessoas ainda comemoram como a tag está sendo disseminada no site e como as pessoas estão empenhadas em contribuir para mostrar os “micos” de Biel (as menções sobre “berro” e “berrando” logo acima são de comemoração sobre a tag estar nos TT’s). O cluster em verde traz os termos “close errado”, “internet”, “micão”, “vídeo” e “hoje” porque muitos interagentes estavam debochando do cantor e dizendo que “no vídeo de hoje” (simulando uma abertura de vídeo) eles ensinariam, com Biel, a como pagar mico na internet. O termo “close errado” aparece como sinal de desaprovação.

O cluster em amarelo relaciona “menino”, “corpo” e “respeito”, com tweets reprovando um tweet antigo de Biel no qual o cantor afirma que mulheres que usam roupas decotadas não se dão ao respeito, e dizem que o cantor é só um menino que usou o corpo para aparecer. Em razão de todas suas polêmicas muitas pessoas disseram que Biel não merece respeito, por isso a presença do termo na rede. O outro cluster também o chama de “lixo humano” e as pessoas dizem não entender como as fãs o defendem.

O cluster em roxo/vermelho tem as palavras “estupraria”, “mulher” e menções ao apresentador Luciano Huck porque as pessoas estavam direcionando à fala a ele, perguntando o que Huck achava do tweet antigo de Biel afirmando que ele estupraria sua esposa. Ao lado há um cluster em rosa que tem o termo “cair” e menções a um perfil. O termo refere-se ao comentário de @otariano, de que Biel havia deixado cair seu cérebro. O cluster em roxo, na parte mais afastada do grafo são tweets falando sobre pessoas que ainda reclamam de ter amigas falsas – aqui o uso exclusivo do feminino talvez indique um discurso de competitividade entre mulheres – fazendo uma comparação com a falsidade de Biel.

Os destaques da rede continuam sendo os “micos” de Biel, já que os comentários fazem referência à sua falsidade – o termo “falsiane” aparece novamente – e comentários sobre sua falta de talento também surgem. Novamente o foco é dizer que sua carreira acabou, que ele é um lixo humano e que não cansa de pagar mico. Parece haver uma divisão entre tweets que estão levando o assunto com humor, tratando tudo como um “micão” (cluster verde) e outros que não entendem quem o defende e o classificam como “lixo humano”.

Foram mais de 100 mil tweets ao longo do dia 02 de agosto com a hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel e, após a reprodução de inúmeros prints de tweets antigos, Biel bloqueou suas contas no Twitter e no Instagram, o que gerou mais uma série de comentários. Além das próprias questões sobre o assédio, os depoimentos de Biel sobre as acusações e o fato de a cultura do estupro estar tão enraizada a ponto de ser naturalizada, o fato desta hashtag ter entrado nos Trending Topics em função da reprodução de tweets antigos traz à tona questionamentos sobre o que é dito online e as características próprias das redes sociais online, como a perenidade dos discursos, a buscabilidade e a apropriação daquilo que foi dito por outros interagentes.

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

 

#SomosTodosParalímpicos: a repercussão da campanha da Vogue Brasil no Twitter

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Pesquisa e post por Pricilla Farina Soares

Na quarta-feira (24), a Vogue Brasil (juntamente com o Comitê Paralímpico Brasileiro) divulgou em seu site e perfis de sites de rede social a campanha #SomosTodosParalímpicos, sobre o início das Paralimpíadas, que acontece entre os dias 07 e 18 de setembro. A campanha traz como destaque Cléo Pires e Paulinho Vilhena, embaixadores do Comitê Paralímpico Brasileiro, na pele de Bruna Alexandre, paratleta do tênis de mesa, e de Renato Leite, na categoria vôlei sentado, respectivamente. A campanha começou a repercutir porque Cléo Pires e Paulinho Vilhena apareciam com braço e perna amputados, em uma edição photoshopada, para dizer que todas as pessoas são Paralímpicas. Em seguida à publicação as pessoas começaram a questionar o porquê de não terem utilizado os/as próprios/as atletas na campanha, entre outros questionamentos.

A palavra “Vogue” chegou em seguida aos trending topics e nós fizemos uma coleta às 14 horas do dia 24 de agosto (“Vogue” chegou aos trending topics no meio da manhã deste dia). Coletamos no total 17.204 tweets, a fim de verificarmos o que as pessoas estavam falando sobre o assunto e que tipos de discursos estavam sendo construídos em torno da campanha que trouxe como destaque não os/as atletas, mas sim um ator e uma atriz com a ideia de que todos poderiam ser paralímpicos.
Abaixo temos o grafo gerado a partir dos 17.204 tweets coletados e os respectivos grupos formados em torno do termo “Vogue”. (clique no grafo para ver maior)

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Visualizando o grafo gerado em torno do termo podemos perceber que não há palavras de apoio sobre a campanha, ou seja, a rede como um todo considerou a ideia da Vogue como algo negativo. É uma rede dispersa, com destaque para cinco grupos que se formaram porque alguns tweets de perfis específicos foram amplamente retuitados. Fora destes grupos que serão analisados a seguir, a maioria dos tweets apenas citavam a campanha da Vogue e o “close errado” que a revista teria dado, já que não colocava os próprios atletas como destaque.
Dos grupos que aparecem com maior destaque na rede (quando maior a conexão, a linha, que liga um termo a outro, mais vezes as palavras foram citadas e mais conectadas elas estão umas às outras), o grupo em azul se refere a um tweet do perfil @Corotenho, e traz as palavras “amputar”, “photoshop”, “linda”, “prefere” e “Paola Antonini” (conforme figura abaixo): (clique na imagem para ver maior)

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Paola Antonini é uma modelo que aos 20 anos sofreu um acidente no qual um carro conduzido por uma pessoa embriagada esmagou sua perna esquerda contra outro carro que estava estacionado. Hoje, Paola utiliza uma prótese e continua trabalhando como modelo, conduziu a tocha olímpica em Minas Gerais e foi convidada a ser uma influenciadora das ações para mídias sociais dos Jogos Paralímpicos.

O tweet foi retuitado mais de 13 mil vezes e mais de 18 mil pessoas curtiram a postagem que trazia um comparativo de como a Vogue poderia ter realizado uma campanha com maior representatividade (ainda que este termo não tenha surgido nos tweets coletados). A ideia aqui é a de que ainda que não fossem atletas paralímpicos representando as Paralimpíadas, outras pessoas que fazem parte e entendem parte da realidade destes/as atletas poderia representar talvez melhor o evento do que simplesmente retirar no photoshop um membro de uma atriz e colocá-la como representante de um grupo o qual ela não faz parte.
Outro grupo de destaque na rede, o grupo amarelo, vem com os termos “racismo”, “deficientes”, “Michel Teló”, e “discriminação”, e também traz uma ideia comparativa, relacionando a campanha da Vogue à ideia, também muito criticada, do cantor Michel Teló que, ao tentar fazer uma campanha contra o racismo das redes sociais acabou publicando uma foto (e depois a excluindo e se desculpando) em que fazia blackface, uma prática teatral do século 19, considerada racista, que ocorria quando atores brancos se pintavam de carvão para representar personagens negros no palco (conforme figura abaixo). O tweet havia sido retuitado 1.200 vezes na rede até o momento da coleta. (clique na imagem para ver maior)

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O terceiro grupo em destaque, o grupo rosa, traz um tweet também bem propagado na rede, e os termos “photoshop”, “parabéns”, “heróicos” e “deficiência”. Aqui os termos “parabéns” e “heróicos” são usados como recurso de ironia, ou seja, a intenção era justamente de dizer o contrário daquilo que estava sendo dito. Ao invés do uso comparativo de ideias foi utilizado o recurso do humor para mostrar desaprovação. Conforme a figura abaixo é possível ver que a mensagem foi retuitada 1.488 vezes até o momento da coleta: (clique na imagem para ver maior)

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O outro grupo, em roxo, é mais central à rede, portanto, grupos mais variados retuitaram a mensagem e mais grupos utilizaram os mesmos termos relacionados aos tweets. O grupo tem como destaque os termos “Cléo Pires”, “editorial”, “modelos”, “cultura africana” e “Paulinho Vilhena”. O tweet é do site de humor Sensacionalista, portanto, novamente o humor é utilizado como ferramenta para ressaltar o que a maioria desaprovou. A mensagem diz “Após Paulinho Vilhena e Cléo Pires como deficientes, Vogue terá editorial sobre cultura africana com modelos escandinavos”. Além do recurso do humor o Sensacionalista também faz uso da comparação, novamente estabelecendo um comparativo em relação a outra forma de discriminação, o racismo (conforme figura abaixo): (clique na imagem para ver maior)

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Outros dois  grupos se destacam como mais referidos na rede, o grupo em verde, na parte abaixo, à esquerda do grafo, se refere ao próprio perfil da Vogue, o @VogueBRoficial , o perfil da @pires_cleo e a hashtag #SomosTodosParalímpicos. Relacionados ao grupo também estão as palavras “close”, “errado” e “merda”.

“Biel” também aparece relacionado ao perfil @naosejatrouxa (em vermelho), em um tweet que recebeu mais de 700 retuítes, que dizia “Foi o Biel que fez essa campanha da Vogue?”, estabelecendo uma relação sobre as diversas falas de Biel que causaram polêmica nos últimos dois meses (figuras abaixo): (clique na imagem para ver maior)

somostodosparalimpicos

Considerações:

Com esses pouco mais de 17 mil tweets pudemos verificar que havia um grande número de tetuítes de perfis específicos, mas que os discursos iam um ao encontro do outro. O uso do humor foi utilizado para demonstrar que a campanha não foi bem sucedida e, aliado aos recursos comparativos essa ideia ficou mais evidente, por isso os tweets comparativos sobre racismo. Houve uma relação muito forte de dois grupos que são estigmatizados socialmente, ainda que de maneiras diferentes e, ainda que representatividade não tenha sido uma palavra utilizada, a sua ausência foi percebida a ponto de serem estabelecidas comparações em relação a outros grupos estigmatizados, comparando a campanha da Vogue a casos de racismo ou a hipotéticas campanhas sobre cultura africana usando modelos escandinavos.

Em relação a grupos estigmatizados, estes se dividem em dois núcleos (GOFFMAN, 2008). Quando se trata de um estigma muito aparente, como um braço amputado, ou excesso de peso, este sujeito é um estigmatizado desacreditado, já quando ele não é tão aparente assim, quando não se tem um conhecimento prévio da diferença do sujeito, ele é um desacreditável.Os exemplos citaram os deficientes físicos e os casos de racismo que podem ocorrer, por exemplo, em campanhas que deixam de usar pessoas negras para campanhas contra o racismo. São estigmas desacreditados porque se percebe o motivo do estigma visualmente. Então, essa relação estabelecida entre os tweets pode demonstrar que as pessoas perceberam uma relação nessa falta de representatividade quando um grupo que não é estigmatizado (no caso o ator e a atriz escolhidos para a campanha) passa a representar grupos que são, de fato, estigmatizados e discriminados, ainda que a intenção seja a de promover o debate e a inserção dessas pessoas nos mais variados grupos sociais. O fato de praticamente só o perfil da Vogue Brasil utilizar a hashtag #SomosTodosParallímpicos demonstra que não há um reconhecimento na ideia elaborada na campanha por parte das pessoa daquela rede, já que sequer aqueles que participam da Paralimpíada estão inseridos na proposta.

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

O discurso de Dilma no Senado

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Os termos mais usados por Dilma Rousseff em seu pronunciamento inicial ao plenário do Senado Federal

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Figura 1. Imagem ilustrativa representando todas as palavras no discurso de Dilma Rousseff

O dia 29 de agosto de 2016 entra para a história do País como o dia em que a presidente da República Dilma Rousseff se posiciona em frente ao Senado Federal e ao STJ para depor em sua defesa no processo de impeachment. Após o período em que foi aberto o julgamento, a segunda-feira foi marcada pela presença da presidente afastada no plenário, para apresentar sua defesa e responder aos questionamentos de todos os senadores proponentes presentes.

De forma objetiva, trazemos as palavras com maior frequência de co-ocorrência no discurso de Dilma na manhã do dia 29, e como elas se conectam na fala da então presidente afastada. (clique no grafo para ver maior)

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Grafo 1. representação de co-ocorrências de palavras no discurso de Dilma

O primeiro grafo apresenta de forma normalizada as ocorrências no discurso. Em primeira instância, especificamente em vermelho no grafo, observamos processo e lei sendo bastante citados, e conectados a palavra impeachment. Tais termos ocorrem especialmente em trechos como

“Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment.”

Lei está fortemente conectada a responsabilidade e fiscal, como em

“Afirma-se que o alegado atraso nos pagamentos das subvenções econômicas devidas ao Banco do Brasil, no âmbito da execução do programa de crédito  rural Plano Safra, equivale a uma “operação de crédito”, o que estaria vedado pela lei de Responsabilidade Fiscal.”

Ainda neste grupo discursivo, outra conexão forte é a que leva as palavras crime e responsabilidade, como apresenta o início do trecho a seguir, que segue com o exemplo de como crime, processo e acusada também se conectam na rede de palavras:

“Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente.”

Já em relação a principal conexão entre Constituição e processo, está o momento em que Dilma fala sobre o que, segundo ela, é o foco do processo de impeachment, e também sobre a acusação de edição de três decretos de crédito suplementar:

“O que está em jogo no processo  de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.”

“A primeira acusação refere-se à edição de três decretos de crédito suplementar sem autorização legislativa. Ao longo de todo o processo, mostramos que a edição desses decretos seguiu todas as regras legais. Respeitamos a previsão contida na Constituição, a meta definida na LDO e as autorizações estabelecidas no artigo 4° da Lei Orçamentária de 2015, aprovadas pelo Congresso Nacional.”

Em azul no grafo estão conectadas duas palavras bastante aparentes no discurso: respeito e julgamento, que usamos como forma de conceituar também julgadores. A seguir, um dos trechos em que ambas as formas aparecem juntas:

“Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores  chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito , mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores.”

Tais termos aparecem também em outro sentido para respeito:

“Não há respeito  ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande parte dos julgadores  é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do exercício final do direito de defesa.”

Seguindo a apresentação dos dados, observamos agora o mesmo grafo, porém em uma distribuição diferente para a visualização dos dados. Aqui vemos os mesmos grupos, coloridos da mesma forma, porém separando as esferas discursivas dentro da narrativa. (clique no grafo para ver maior)

Grafododiscurso_naonormalizado

Grafo 2. Representação de co-ocorrências de palavras no discurso de Dilma em agosto de 2016

Em laranja no grafo, observamos a ligação de palavras como povo e governo. Observando o discurso, entendemos que Dilma enfatiza a importância de eleições diretas como um sinal da Democracia, e cita como exemplo oposto a isso o governo interino de Michel Temer, como descreve o trecho a seguir:

“A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o País. Um governo  que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014.”

Logicamente, Dilma também usou governo para falar da própria administração frente ao país, e novamente relacionou ao povo e a brasileiro, que unimos no grafo em um termo só pelo seu plural:

“Muitos articularam e votaram contra propostas que durante toda a vida defenderam, sem pensar nas consequências que seus gestos trariam para o País e para o povo brasileiro. Queriam aproveitar a crise econômica, porque sabiam que assim que o meu governo  viesse a superá-la, sua aspiração de acesso ao poder haveria de ficar sepultada por mais um longo período.”

Outra conexão entre país e brasileiros foi quando Dilma Rousseff falou sobre uma possível chamada de novas eleições, caso seja absolvida:

“Chego à última etapa desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso país.”

Em verde, entendemos que o discurso de Dilma teve conexões fortes entre as palavras democracia e direito. Neste sentido, há um trecho do discurso em que ela fala sobre as mulheres brasileiras e a luta das mesmas pela democracia:

“Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia  e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil.”

Seguindo com a democracia, o discurso integra luto, de lutar, a democracia, verdade e justiça, como no trecho em questão:

“Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo do meu país, pelo seu bem-estar.”

Usando direito no sentido de Estado de Direito, a presidente em julgamento conecta o termo à presidência da República, país e democracia.

“Exercendo a presidência da República tenho honrado o compromisso com o meu país, com a Democracia, com o Estado de direito. Tenho sido intransigente na defesa da honestidade na gestão da coisa pública.”

De forma geral, as palavras mais utilizadas por Dilma tiveram forte conexão entre si, independentemente dos grupos discursivos formados e observados aqui. Trechos como o que apresentamos a seguir mostram uma defesa marcada por um discurso que usou desde o histórico político pessoal da presidente afastada, até a motivação considerada para a votação do impeachment por parte de congressistas e senadores. Apoio, luta, brasileiras e brasileiros, luta contra o golpe são marcas do discurso de Dilma Rousseff, e que tomaram parte em seu pronunciamento no Senado nesta manhã.

“Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superadas, em muito, pela solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e brasileiros pelo país  afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo  esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe.”

Observamos neste post como as palavras mais frequentes no discurso de Dilma se conectam em sua narrativa. Vale lembrar que os grafos não representam todas as palavras presentes na fala, mas as principais que têm conexões fortes entre si. Para um estudo mais completo, seria necessário a observação e avaliação dos dados não somente nos grafos, mas também em seu contexto, ou seja, o discurso na íntegra.

Fontes para o texto do discurso na íntegra: Agência Brasil Revista Fórum e Clicrbs.

Metodologia
Formatação e filtro: Textometrica
Formatação de grafos e análise: Gephi

O projeto Monitor das Eleições

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O ano de 2016 é de eleições municipais. O mês de outubro, data de votação do primeiro turno, se aproxima e as campanhas eleitorais estão em andamento.

Nestas camlogo-monitor-das-eleicoes-2016-tamanho-2panhas, as mídias sociais são muito utilizadas pelos candidatos. Por isso, o projeto Monitor das Eleições acompanha a atuação dos políticos nestes espaços. O projeto surgiu em 2012 e observou as eleições municipais em Pelotas, em 2014 foi a vez das eleições presidenciais. Na edição de 2016 o foco são os candidatos às prefeituras de Pelotas e de Porto Alegre.

A coleta de dados acontece semanalmente em dois sites: o Facebook e o Twitter. Semanalmente o site do Monitor é atualizado e apresenta as informações de cada candidato e comparativo entre todos. As coletas são realizadas por membros do MIDIARS e alunos voluntários dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Católica de Pelotas.

O projeto é apartidário, nenhum dos envolvidos está vinculado a partidos políticos. O projeto também não faz pesquisa eleitoral, apenas divulga dados públicos sistematizados que podem gerar informações para que o público em geral possa observar o uso das mídias sociais pelos candidatos.

Clique no link a seguir para conhecer o site do Monitor e acompanhe o as novidades sobre o monitoramento nas páginas do projeto no Twitter e no Facebook.

Discurso dos candidatos no Facebook: Paula Mascarenhas

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Falta menos de uma semana para o dia da votação das eleições municipais. Por isso, essa semana vamos publicar diariamente análises sobre o que os candidatos à prefeitura de Pelotas estão falando no Facebook.

Nesta primeira publicação foram analisadas as publicações de Paula Mascarenhas, candidata do PSDB, entre os dias 1º e 22 de setembro. Até sexta vamos publicar também as análises das páginas de Anselmo Rodrigues, Jurandir Silva e Miriam Marroni.

No período acima definido foram coletadas todas as publicações realizadas na fanpage de Paula por meio do software NodeXL. Os dados foram processados no site textometrica para possibilizar uma análise de contingência entre os termos mais utilizados. Foram criados 48 conceitos a partir dos termos coletados, gerando 568 coocorrências. Por fim, foi formado um grafo no software Gephi para representar as relações entre os conceitos.

Duas métricas foram medidas para a formação do grafo: o grau, número de conexões de um nó, representado pelo tamanho do nó; e a modularidade, que forma grupos de acordo com as conexões entre os conceitos, representados pelas cores dos nós. O algoritmo utilizado para gerar o grafo foi o Force Atlas, que aproxima os grupos e centraliza os nós de maior grau.

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Grafo 1. Termos mais utilizados por Paula no Facebook (clique na imagem para abrir em uma resolução maior).

A formação de apenas dois grupos mostra um alinhamento padrão no discurso de Paula no Facebook. Ou seja, mesmo tratando sobre temas diferentes, a candidata mantém a utilização dos mesmos termos ou de termos semelhantes. O grupo menor, inclusive, é formado apenas pelas hashtags.

Alguns conceitos podem ser destacados para ilustrar o tipo de discurso produzido por Paula no período analisado. A alta frequência de “Eduardo Leite”, “nosso” e “governo” mostra a constância que Paula resgata elementos da gestão atual, em que é vice-prefeita de Eduardo Leite, nas publicações. O termo “continuar” fortalece o discurso de continuidade do governo, tendo ligação forte aos conceitos que envolvem “mudança”, aparecendo frequentemente como “continuar mudando” nas publicações de Paula. Outro conceito alinhado com esse discurso é “UPA” (Unidade de Pronto Atendimento), um dos trunfos do governo de Eduardo e Paula.

Algumas expressões são muito frequentes no discurso de Paula, uma delas também mencionando a gestão atual: a conexão entre “parar” e “mudança” se dá pela frequente utilização da frase “A mudança não pode parar”. Outras expressões podem ser vistas a partir dos conceitos “vem”, “seguir”, “gente”, “frente” e “avançar”. Estas são utilizadas como frases de suporte à campanha, como “vem seguir em frente”, “vem com a gente” e “vem pra Pelotas avançar”, também representadas nas hashtags.

Os temos “policiamento”, “segurança”, “escolas”, “saúde”, “educação”, “propostas” e “programa” mostram que é frequente a apresentação de propostas de governo, assim como a relação destas propostas com o que foi feito pela gestão atual.

O termo “mulheres” também pode ser destacado. É utilizado por Paula em uma sequência de publicações que disponibiliza imagens com nomes de mulheres e o logo da campanha de Paula. Estas publicações são relevantes porque reforçam a questão do gênero na discussão, propondo Paula como a primeira prefeita mulher de Pelotas.

Por fim, é interessante destacar que os termos utilizados por Paula para se referir aos eleitores são normalmente “pessoas”, “moradores” e “pelotenses” e com uma menor frequência “povo”. Isto mostra que o discurso populista não é muito comum nas publicações de Paula.

Em geral, se pode observar nas publicações de Paula que é frequente a referência ao governo atual, mantendo um discurso de continuidade. Propostas também são apresentadas, muitas vezes alinhadas com o que tem sido feito. A questão de gênero também é levantada, podendo gerar identificação de mulheres com a candidatura de Paula.

Discurso dos candidatos no Facebook: Anselmo Rodrigues

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Continuando a sequência de análises sobre o discurso dos candidatos à prefeitura de Pelotas no Facebook, hoje é dia de observar as postagens de Anselmo Rodrigues. Ontem foi publicada a análise sobre o que Paula Mascarenhas tem falado, amanhã e sexta serão observadas, respectivamente, as postagens de Jurandir Silva e Miriam Marroni.

Para esta análise, foram coletadas todas as publicações da fanpage oficial da campanha de Anselmo Rodrigues, do PDT, no Facebook entre 1º e 22 de setembro. A coleta foi realizada com o auxílio do software NodeXL. Em seguida, os textos foram inseridos no site textometrica para a análise de contingência, gerando 237 coocorrências a partir da classificação de 33 conceitos. Por fim, foi formado um grafo no software Gephi, construindo a representação das relações entre os conceitos.

Duas métricas foram medidas para a formação do grafo: o grau, número de conexões de um nó, representado pelo tamanho do nó; e a modularidade, que forma grupos de acordo com as conexões entre os conceitos, representados pelas cores dos nós. O algoritmo utilizado para gerar o grafo foi o Force Atlas, que aproxima os grupos e centraliza os nós de maior grau.

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Grafo 1. Termos mais utilizados por Anselmo no Facebook (clique na imagem para abrir em uma resolução maior).

A partir dos cálculos de modularidade, é possível identificar três grupos no grafo gerado. O grupo representado pela cor roxa é mais geral e heterogêneo, o grupo de cor verde é composto apenas pelas hashtags utilizadas, já o grupo laranja representa um discurso mais interligado em si. Tendo isto em vista, parece interessante começar a análise a partir dos conceitos que formam o grupo laranja.

Um dos aspectos relevantes que pode ser observado no grupo laranja é a ligação entre os dois conceitos de maior grau: “Governaço” e “povo”. Uma frase comum nas publicações de Anselmo é “vamos fazer um Governaço pelo povo”, que insere também o conceito “fazer”, presente neste grupo – “juntos” também aparece em alguns contextos. Esta frase é cheia de significado. Anselmo é também conhecido pela alcunha de Governaço em função do bordão que lançou em sua primeira eleição municipal, em 1988. O termo Governaço carrega consigo um sentido de proximidade do povo e dos mais pobres, por isso é importante de ser observado. O conceito “homem” se aproxima de “povo” porque Anselmo frequentemente denomina-se como “homem do povo”. Este primeiro grupo analisado já demonstra um caráter de discurso populista, referenciando frequentemente a questão do governo pelo povo e de Anselmo ser homem do povo.

Identificando ainda um discurso populista, pode-se destacar conceitos do grupo maior (roxo). “Abraço”, “carinho” e “selfie” são sempre utilizados em contextos onde Anselmo está no meio do povo, recebendo abraços ou tirando selfies (muitas são enviadas pelos próprios eleitores e reproduzidas na fanpage). As coberturas de caminhadas geralmente são acompanhadas dos conceitos acima, reforçando a boa relação de Anselmo com o povo. “Vila”, “bairro” e “moradores” também aparecem com alguma frequência nestes contextos.

O nó de Rafael Amaral, presente no grafo com um alto grau de conexões, demonstra o destaque dado ao candidato a vice-prefeito. O conceito surge em diversos contextos, como na relação com “selfie”, também mostrando Rafael Amaral em proximidade com o povo, e “futuro”, apresentando confiança na eleição dos dois. Este contexto também aparece na relação com o conceito “vai”, fazendo referência ao que Anselmo e Rafael vão mudar caso eleitos.

Pode-se, por fim, citar dois conceitos relacionados com críticas à gestão atual da prefeitura. “Realidade” tem ligações com conceitos como “vila” e “bairro” e destaca que a realidade destes espaços é preocupante e precisa mudar. Já “descaso” aparece conectado também “saúde” e “educação”, além das conexões com “vila” e “bairro”.

De modo geral, pode-se afirmar que Anselmo Rodrigues mantém um discurso populista, tentando destacar a proximidade com o povo, pelo bordão “Governaço” e por auto denominar-se “homem do povo”, além de destacar a recepção que ele e seu vice, também referência importante na campanha, recebem da população pelotense, especialmente em vilas e bairros. Há também o discurso de crítica ao governo atual, citando o descaso na saúde, educação e outras áreas, principalmente nas regiões mais pobres.

Discurso dos candidatos no Facebook: Jurandir Silva

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O terceiro candidato a ter seu discurso no Facebook analisado é Jurandir Silva, do PSOL. Já foram publicadas as análises de Paula Mascarenhas e Anselmo Rodrigues. Amanhã será a vez de Miriam Marroni.

Coletou-se todas as publicações da página de Jurandir Silva no Facebook entre 1º e 22 de setembro. Para isto, foi utilizado o software NodeXL. Os dados foram processados no site textometrica, que busca coocorrências entre conceitos para a análise de contingência. Foram selecionados 29 conceitos que resultaram em 204 coocorrências. Em seguida, utilizou-se o software Gephi para a formação de um grafo que representa as relações entre os conceitos.

Duas métricas foram medidas para a formação do grafo: o grau, número de conexões de um nó, representado pelo tamanho do nó; e a modularidade, que forma grupos de acordo com as conexões entre os conceitos, representados pelas cores dos nós. O algoritmo utilizado para gerar o grafo foi o Force Atlas, que aproxima os grupos e centraliza os nós de maior grau.

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Grafo 1. Termos mais utilizados por Jurandir no Facebook (clique na imagem para abrir em uma resolução maior).

A partir dos cálculos de modularidade foram formados quatro grupos entre os conceitos analisados. Diferentemente dos candidatos anteriores, no discurso de Jurandir não há um grupo apenas com hashtags.

Antes de uma análise específica dos grupos, é interessante citar que, também diferente do que ocorreu com os outros candidatos, o nome de Jurandir (ou de Roberta, sua vice) não é um nó central no grafo. Isto caracteriza um discurso mais direto, que não apresenta tantas referências aos assessores de comunicação, responsáveis frequentemente pelo gerenciamento de redes sociais em campanhas políticas. Não necessariamente foi Jurandir o responsável pela maioria das publicações, mas o sentido gerado por uma interlocução mais direta é esse.

A característica de uma campanha mais próxima do eleitor é evidenciada no grupo verde (parte superior do grafo). Jurandir convida o eleitor a “participar” de uma “campanha colaborativa”, enviando “fotos” e explicando porque vai “votar” no PSOL. O material enviado pelos eleitores é, então, publicado nas “redes sociais” da campanha. Este aspecto é relevante por dois motivos: evidencia a participação popular e o engajamento de militância; e tenta solucionar o pouco tempo de propaganda gratuita de Jurandir na televisão e no rádio.

Mesmo no grupo roxo, mais central e diversificado do grafo, onde estão alguns conceitos mais gerais (como “Pelotas”, “candidatura” e “programa”), a questão popular é marcada. Os conceitos “juntos” e “construir” aparecem frequentemente na frase: “Vamos juntos construir a Pelotas que merecemos” – incluindo também o conceito “merece”. O conceito “compartilha” também convida à participação dos apoiadores da campanha.

Outro elemento presente no grupo roxo pode ser observado pelo conceito “mudança”, relacionado também com o conceito “merece”. Jurandir afirma em diversas situações que “Pelotas merece mudanças”, trazendo um sentido de oposição ao governo atual e propondo uma nova forma de gestão.

No grupo laranja os conceitos “democratização”, “cultural” e “atividades” definem uma das bandeiras defendidas pela chapa de Jurandir, a ampliação de atividades culturais de maneira mais democrática, sendo oferecida gratuitamente em “bairros periféricos”.

Ainda se pode observar no grupo azul a oposição ao governo de Michel Temer. A relação entre os conceitos “fora” e “Temer” deixam isso claro. “Popular” também está associada aos conceitos porque Jurandir convoca seus seguidores para uma assembleia popular contra o presidente.

Em resumo, percebe-se que o discurso produzido por Jurandir no Facebook tem como característica uma interlocução mais direta, eliminando a maior parte de elementos que possam identificar uma assessoria de comunicação e incentivando a interação de seus apoiadores e militantes. Jurandir ainda se apropria de um discurso mais popular, propondo uma construção conjunta com a sociedade e defendendo acesso à cultura também em bairros periféricos.

Discurso dos candidatos no Facebook: Miriam Marroni

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Encerrando a sequência de análises do discurso dos candidatos à prefeitura de Pelotas no Facebook, hoje são observadas as publicações de Miriam Marroni. As postagens de Paula Mascarenhas, Anselmo Rodrigues e Jurandir Silva já foram analisadas.

Para esta análise, foram coletadas as publicações da fanpage da campanha de Miriam Marroni, do PT, entre 1º e 22 de setembro. A coleta foi realizada com o auxílio do software NodeXL. Em seguida, os dados foram processados no site textometrica para a análise de contingência, formando 1652 coocorrências a partir de 53 conceitos. Com a utilização do software Gephi, foi gerado um grafo que representa as relações entre os conceitos.

Duas métricas foram medidas para a formação do grafo: o grau, número de conexões de um nó, representado pelo tamanho do nó; e a modularidade, que forma grupos de acordo com as conexões entre os conceitos, representados pelas cores dos nós. O algoritmo utilizado para gerar o grafo foi o Force Atlas, que aproxima os grupos e centraliza os nós de maior grau.

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Grafo 1. Termos mais utilizados por Miriam no Facebook (clique na imagem para abrir em uma resolução maior).

As publicações de Miriam formaram o grafo com mais conexões entre os quatro candidatos analisados. A partir dos conceitos, foram gerados três grupos. Assim como Paula e Anselmo, Miriam possui um grupo apenas com hashtags (o verde). Diferente dos outros candidatos, porém, o grupo de hashtags é mais central e possui nós de alto grau, mostrando que foi uma ferramenta utilizada recorrentemente e em diversos contextos.

O grupo laranja apresenta fundamentalmente um discurso de crítica ao governo atual. O conceito “problemas” aparece em várias situações, denunciado problemas da cidade e dos bairros, como transporte público, atendimento de saúde e segurança pública. O conceito “prioridade” também aparece em contextos semelhantes, questionando a falta de atenção do governo a muitas regiões da cidade, além de afirmar que o dinheiro da cidade não é utilizado para áreas prioritárias, como saúde e educação.

Outro conceito que aparece em contextos próximos é “propaganda”. Miriam questiona “os R$ 3 milhões gastos com propaganda”. Este conceito também aparece em um sentido de crítica aos programas eleitorais de Paula, atual vice-prefeita, indicando que a propaganda mostra uma Pelotas que não existe, utilizando em algumas situações a #PelotasDaFantasia.

No mesmo sentido aparece o conceito “verdade”. Miriam afirma em diversas situações que “Pelotas quer mudar de verdade”, mais uma vez questionando a gestão atual, que afirma estar mudando a cidade. “Verdade” também aparece associado ao investimento “de verdade” na saúde e outras áreas (como esporte e cultura, conceitos do grupo roxo).

Enquanto o grupo laranja possui um discurso mais focado na crítica ao atual governo, o grupo roxo apresenta mais elementos relacionados com propostas e programa de governo. Isto pode ser observado pela presença de conceitos como “propostas”, “campanha”, “projetos” e “compromisso”. O conceito “vamos” também aparece neste sentido, com Miriam afirmando o que vai fazer caso eleita.

O conceito “melhorar” também aparece relacionado com propostas da candidatura de Miriam. Os contextos onde é utilizado, porém, geralmente estão relacionados com críticas ao atual governo, mostrando os problemas e prometendo melhorar. O conceito “precisa” também é utilizado em situações semelhantes.

O que se pode ver, de modo geral, é que o discurso de Miriam tem forte crítica ao governo atual. Isto está representado especialmente no grupo laranja. Mesmo no grupo roxo, onde estão presentes propostas e planos de governo, o discurso de oposição também ocupa uma posição forte, mostrando sempre os problemas para apontar soluções propostas.

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