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O discurso de Dilma no Senado

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Os termos mais usados por Dilma Rousseff em seu pronunciamento inicial ao plenário do Senado Federal

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Figura 1. Imagem ilustrativa representando todas as palavras no discurso de Dilma Rousseff

O dia 29 de agosto de 2016 entra para a história do País como o dia em que a presidente da República Dilma Rousseff se posiciona em frente ao Senado Federal e ao STJ para depor em sua defesa no processo de impeachment. Após o período em que foi aberto o julgamento, a segunda-feira foi marcada pela presença da presidente afastada no plenário, para apresentar sua defesa e responder aos questionamentos de todos os senadores proponentes presentes.

De forma objetiva, trazemos as palavras com maior frequência de co-ocorrência no discurso de Dilma na manhã do dia 29, e como elas se conectam na fala da então presidente afastada. (clique no grafo para ver maior)

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Grafo 1. representação de co-ocorrências de palavras no discurso de Dilma

O primeiro grafo apresenta de forma normalizada as ocorrências no discurso. Em primeira instância, especificamente em vermelho no grafo, observamos processo e lei sendo bastante citados, e conectados a palavra impeachment. Tais termos ocorrem especialmente em trechos como

“Hoje o Brasil, o mundo e a história nos observam e aguardam o desfecho deste processo de impeachment.”

Lei está fortemente conectada a responsabilidade e fiscal, como em

“Afirma-se que o alegado atraso nos pagamentos das subvenções econômicas devidas ao Banco do Brasil, no âmbito da execução do programa de crédito  rural Plano Safra, equivale a uma “operação de crédito”, o que estaria vedado pela lei de Responsabilidade Fiscal.”

Ainda neste grupo discursivo, outra conexão forte é a que leva as palavras crime e responsabilidade, como apresenta o início do trecho a seguir, que segue com o exemplo de como crime, processo e acusada também se conectam na rede de palavras:

“Venho para olhar diretamente nos olhos de Vossas Excelências, e dizer, com a serenidade dos que nada tem a esconder que não cometi nenhum crime de responsabilidade. Não cometi os crimes dos quais sou acusada injusta e arbitrariamente.”

Já em relação a principal conexão entre Constituição e processo, está o momento em que Dilma fala sobre o que, segundo ela, é o foco do processo de impeachment, e também sobre a acusação de edição de três decretos de crédito suplementar:

“O que está em jogo no processo  de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição.”

“A primeira acusação refere-se à edição de três decretos de crédito suplementar sem autorização legislativa. Ao longo de todo o processo, mostramos que a edição desses decretos seguiu todas as regras legais. Respeitamos a previsão contida na Constituição, a meta definida na LDO e as autorizações estabelecidas no artigo 4° da Lei Orçamentária de 2015, aprovadas pelo Congresso Nacional.”

Em azul no grafo estão conectadas duas palavras bastante aparentes no discurso: respeito e julgamento, que usamos como forma de conceituar também julgadores. A seguir, um dos trechos em que ambas as formas aparecem juntas:

“Hoje, quatro décadas depois, não há prisão ilegal, não há tortura, meus julgadores  chegaram aqui pelo mesmo voto popular que me conduziu à Presidência. Tenho por todos o maior respeito , mas continuo de cabeça erguida, olhando nos olhos dos meus julgadores.”

Tais termos aparecem também em outro sentido para respeito:

“Não há respeito  ao devido processo legal quando a opinião condenatória de grande parte dos julgadores  é divulgada e registrada pela grande imprensa, antes do exercício final do direito de defesa.”

Seguindo a apresentação dos dados, observamos agora o mesmo grafo, porém em uma distribuição diferente para a visualização dos dados. Aqui vemos os mesmos grupos, coloridos da mesma forma, porém separando as esferas discursivas dentro da narrativa. (clique no grafo para ver maior)

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Grafo 2. Representação de co-ocorrências de palavras no discurso de Dilma em agosto de 2016

Em laranja no grafo, observamos a ligação de palavras como povo e governo. Observando o discurso, entendemos que Dilma enfatiza a importância de eleições diretas como um sinal da Democracia, e cita como exemplo oposto a isso o governo interino de Michel Temer, como descreve o trecho a seguir:

“A eleição indireta de um governo que, já na sua interinidade, não tem mulheres comandando seus ministérios, quando o povo, nas urnas, escolheu uma mulher para comandar o País. Um governo  que dispensa os negros na sua composição ministerial e já revelou um profundo desprezo pelo programa escolhido pelo povo em 2014.”

Logicamente, Dilma também usou governo para falar da própria administração frente ao país, e novamente relacionou ao povo e a brasileiro, que unimos no grafo em um termo só pelo seu plural:

“Muitos articularam e votaram contra propostas que durante toda a vida defenderam, sem pensar nas consequências que seus gestos trariam para o País e para o povo brasileiro. Queriam aproveitar a crise econômica, porque sabiam que assim que o meu governo  viesse a superá-la, sua aspiração de acesso ao poder haveria de ficar sepultada por mais um longo período.”

Outra conexão entre país e brasileiros foi quando Dilma Rousseff falou sobre uma possível chamada de novas eleições, caso seja absolvida:

“Chego à última etapa desse processo comprometida com a realização de uma demanda da maioria dos brasileiros: convocá-los a decidir, nas urnas, sobre o futuro de nosso país.”

Em verde, entendemos que o discurso de Dilma teve conexões fortes entre as palavras democracia e direito. Neste sentido, há um trecho do discurso em que ela fala sobre as mulheres brasileiras e a luta das mesmas pela democracia:

“Parceiras incansáveis de uma batalha em que a misoginia e o preconceito mostraram suas garras, as brasileiras expressaram, neste combate pela democracia  e pelos direitos, sua força e resiliência. Bravas mulheres brasileiras, que tenho a honra e o dever de representar como primeira mulher Presidenta do Brasil.”

Seguindo com a democracia, o discurso integra luto, de lutar, a democracia, verdade e justiça, como no trecho em questão:

“Não luto pelo meu mandato por vaidade ou por apego ao poder, como é próprio dos que não tem caráter, princípios ou utopias a conquistar. Luto pela democracia, pela verdade e pela justiça. Luto pelo povo do meu país, pelo seu bem-estar.”

Usando direito no sentido de Estado de Direito, a presidente em julgamento conecta o termo à presidência da República, país e democracia.

“Exercendo a presidência da República tenho honrado o compromisso com o meu país, com a Democracia, com o Estado de direito. Tenho sido intransigente na defesa da honestidade na gestão da coisa pública.”

De forma geral, as palavras mais utilizadas por Dilma tiveram forte conexão entre si, independentemente dos grupos discursivos formados e observados aqui. Trechos como o que apresentamos a seguir mostram uma defesa marcada por um discurso que usou desde o histórico político pessoal da presidente afastada, até a motivação considerada para a votação do impeachment por parte de congressistas e senadores. Apoio, luta, brasileiras e brasileiros, luta contra o golpe são marcas do discurso de Dilma Rousseff, e que tomaram parte em seu pronunciamento no Senado nesta manhã.

“Confesso a Vossas Excelências, no entanto, que a traição, as agressões verbais e a violência do preconceito me assombraram e, em alguns momentos, até me magoaram. Mas foram sempre superadas, em muito, pela solidariedade, pelo apoio e pela disposição de luta de milhões de brasileiras e brasileiros pelo país  afora. Por meio de manifestações de rua, reuniões, seminários, livros, shows, mobilizações na internet, nosso povo  esbanjou criatividade e disposição para a luta contra o golpe.”

Observamos neste post como as palavras mais frequentes no discurso de Dilma se conectam em sua narrativa. Vale lembrar que os grafos não representam todas as palavras presentes na fala, mas as principais que têm conexões fortes entre si. Para um estudo mais completo, seria necessário a observação e avaliação dos dados não somente nos grafos, mas também em seu contexto, ou seja, o discurso na íntegra.

Fontes para o texto do discurso na íntegra: Agência Brasil Revista Fórum e Clicrbs.

Metodologia
Formatação e filtro: Textometrica
Formatação de grafos e análise: Gephi

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