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#ErrarÉHumanoPersistirÉBiel

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Pesquisa e post por Pricilla Farina Soares

Nesta semana, no dia 01 de agosto, diversos sites de notícias reproduziram uma matéria em que o cantor Biel fala, em entrevista gravada em vídeo para o Programa TV Fama da RedeTv!, que caso encontrasse pessoalmente a estagiária de jornalismo do site IG que o acusou de assédio, esclareceria o quanto, para ele, ela prejudicou sua carreira. Em junho, a repórter do IG foi assediada ao fazer uma entrevista com Biel, que entre outros comentários a chamou de “gostosinha” e disse que “a quebraria no meio”, caso mantivessem relações sexuais. Biel disse que tudo não passava de brincadeira.

O assédio repercutiu bastante em sites de notícias e, principalmente, nos sites de redes sociais. No dia 06 de junho o youtuber Felipe Neto divulgou um vídeo “Biel- Não Faz Sentido”, que na mesma data chegou aos Trending Topics. No dia 07 de junho a hashtag #CorrentedeAmordoBiel – atribuída aos fãs do cantor – também foi parar nos tópicos mais comentados do Twitter. Alguns dias depois, no dia 13 de junho, outra hashtag foi destaque no Twitter: #BielGostosinhaÉSuaIrmã. No dia 28 de julho o cantor foi novamente lembrado quando foi divulgado um vídeo seu, em uma festa de aniversário em que ele canta a frase pela qual foi acusado de assédio. A hashtag #BielRespeiteAsMulheres chegou, novamente, aos Trending Topics. Esta semana, o cantor reapareceu por meio da tag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel no Twitter, desta vez com a repercussão de sua entrevista ao programa de televisão.

Hoje, nossa proposta foi fazer uma análise em torno da hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel, que surgiu após o depoimento de Biel de que a repórter (assediada por ele) havia prejudicado sua carreira como cantor, e quando usuários do Twitter começaram a publicar tweets antigos dele, entre eles comentários preconceituosos, machistas e racistas. Apesar desses tweets terem começando em função da nova publicação acerca do assédio sofrido pela repórter do IG, a rede que se formou em torno da tag não menciona o fato, já que o que a impulsionou para os TTs foram os prints dos tweets antigos de Biel.

Coletamos ao todo 37.533 tweets divididos em duas coletas no dia 02 de agosto, uma no turno da manhã e outra no turno da tarde. Na primeira coleta realizada no dia 02 de agosto, às 10 horas, coletamos os 18.900 tweets que originaram o grafo abaixo (clique na imagem para ver maior), que apresenta as co-ocorrências de palavras mais utilizadas.

grafo10h

Grafo 1. Dados da coleta #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel realizada às 10h

O grafo apresenta quatro clusters (grupo de tweets que se relacionam pelo conteúdo), mas que também se misturam. Em destaque verde podemos ver as palavras “carreira”, “acabou”, “micão” e “Taylor Swift”. O cluster em rosa está diretamente relacionado à cantora Taylor Swift, na qual os interagentes estabeleceram uma comparação sobre a cantora estar frequentemente envolvida em polêmicas no Twitter e com outros/as cantores/as. Os atores da rede dizem que “cada país tem a Taylor Swift que merece”, usando para isso recursos discursivos característicos do humor para tratar do assunto. Os termos “viciado” “imaginem” e “tweets antigos” também fazem referência sobre o cantor ser viciado em pagar micos. Os atores da rede também estariam imaginando como Fátima Bernardes, Luciano Hulk e Danilo Gentili veriam os tweets antigos de Biel, já que um tempo após os ter criticado ele acabou participando dos programas dos três apresentadores.

A palavra “carreira” está presente em toda rede e os interagentes ficam a todo momento afirmando que a carreia de Biel acabou, por isso a relação dos termos “micão” e “povo”, com tweets sobre o fato do povo “não perdoar”, não deixar passar em branco. Com menos destaque aparecem as palavras “nojo”, referindo-se não necessariamente às ações do cantor, mas sim a ele e às fãs que ainda o defendem. Ao contrário das hashtags anteriores, em que parecia haver uma disputa entre fãs e quem estava criticando, desta vez a disputa não ocorre. As palavras “moleque”, “falsiane” aparecem e, isolados da rede (em vermelho no Grafo), os termos “falsinha” e “escroto”. No cluster em vermelho no canto direito, aparecem os termos “falsa”, “falsianes” e “falsidade”. A palavra “Twitter” também surge e as pessoas parecem comemorar como o fato está sendo encarado no site de rede social.

Os antigos tweets de Biel contém comentários machistas, sexistas e racistas, muitos utilizando o humor para suavizar seu discurso. Além dos tweets há a própria situação no qual o cantor é acusado de assédio e, em mais uma entrevista afirma que a repórter foi quem prejudicou sua carreira. Entretanto, na maioria dos tweets o termo “micão” aparece com destaque, suavizando de certa forma os discursos proferidos pelo cantor – seja em entrevistas, por meio das acusações ou no perfil do Twitter – e dizendo se tratar apenas de uma série de micos que prejudicaram a carreira de Biel.

Na segunda coleta feita também no dia 02 de agosto, às 14h45, coletamos 18.633 tweets sobre a hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel. A segunda coleta apresenta diferentes grupos temáticos, não é uma rede densa e há clusters bem separados, com diferentes focos, ainda que haja a manutenção dos discursos sobre os tweets antigos de Biel. (clique no grafo para ver maior)

14h45m

Grafo 2. Dados da coleta das 14h45min

Há muitos perfis sendo retuitados nesta nova rede, mas os termos “carreira” e “Twitter” seguem com nós maiores, ou seja, continuam sendo muito utilizados. O termo “tag” surge relacionado a “Twitter” e “momento” porque as pessoas ainda comemoram como a tag está sendo disseminada no site e como as pessoas estão empenhadas em contribuir para mostrar os “micos” de Biel (as menções sobre “berro” e “berrando” logo acima são de comemoração sobre a tag estar nos TT’s). O cluster em verde traz os termos “close errado”, “internet”, “micão”, “vídeo” e “hoje” porque muitos interagentes estavam debochando do cantor e dizendo que “no vídeo de hoje” (simulando uma abertura de vídeo) eles ensinariam, com Biel, a como pagar mico na internet. O termo “close errado” aparece como sinal de desaprovação.

O cluster em amarelo relaciona “menino”, “corpo” e “respeito”, com tweets reprovando um tweet antigo de Biel no qual o cantor afirma que mulheres que usam roupas decotadas não se dão ao respeito, e dizem que o cantor é só um menino que usou o corpo para aparecer. Em razão de todas suas polêmicas muitas pessoas disseram que Biel não merece respeito, por isso a presença do termo na rede. O outro cluster também o chama de “lixo humano” e as pessoas dizem não entender como as fãs o defendem.

O cluster em roxo/vermelho tem as palavras “estupraria”, “mulher” e menções ao apresentador Luciano Huck porque as pessoas estavam direcionando à fala a ele, perguntando o que Huck achava do tweet antigo de Biel afirmando que ele estupraria sua esposa. Ao lado há um cluster em rosa que tem o termo “cair” e menções a um perfil. O termo refere-se ao comentário de @otariano, de que Biel havia deixado cair seu cérebro. O cluster em roxo, na parte mais afastada do grafo são tweets falando sobre pessoas que ainda reclamam de ter amigas falsas – aqui o uso exclusivo do feminino talvez indique um discurso de competitividade entre mulheres – fazendo uma comparação com a falsidade de Biel.

Os destaques da rede continuam sendo os “micos” de Biel, já que os comentários fazem referência à sua falsidade – o termo “falsiane” aparece novamente – e comentários sobre sua falta de talento também surgem. Novamente o foco é dizer que sua carreira acabou, que ele é um lixo humano e que não cansa de pagar mico. Parece haver uma divisão entre tweets que estão levando o assunto com humor, tratando tudo como um “micão” (cluster verde) e outros que não entendem quem o defende e o classificam como “lixo humano”.

Foram mais de 100 mil tweets ao longo do dia 02 de agosto com a hashtag #ErrarÉHumanoPersistirÉBiel e, após a reprodução de inúmeros prints de tweets antigos, Biel bloqueou suas contas no Twitter e no Instagram, o que gerou mais uma série de comentários. Além das próprias questões sobre o assédio, os depoimentos de Biel sobre as acusações e o fato de a cultura do estupro estar tão enraizada a ponto de ser naturalizada, o fato desta hashtag ter entrado nos Trending Topics em função da reprodução de tweets antigos traz à tona questionamentos sobre o que é dito online e as características próprias das redes sociais online, como a perenidade dos discursos, a buscabilidade e a apropriação daquilo que foi dito por outros interagentes.

Metodologia
Coleta: NodeXL
Formatação e filtro: Notepad++ e Textometrica
Formatação e análise: Gephi

 


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